Por Érico Arruda (*)
Diante da importância das vacinas contra
a Covid-19 e da oferta tardia e escassa de imunizantes em nosso País,
é preciso ouvir a ciência, para definir a melhor estratégia para rápida e
máxima proteção de todas e todos, incluindo os médicos.
Será que a recente sondagem de opinião realizada
pelo Sindicato dos Médicos do Ceará sobre 3a. dose de vacina representa de fato
a posição da categoria? Presume-se que o maior percentual dos participantes da
enquete seja alinhado com a atual diretoria, que já demonstrou suas
posições bolsonaristas, negando bastante as evidências científicas.
Claro que profissionais de saúde precisam estar
protegidos, mas a maioria já recebeu a 2a. dose. O contexto epidemiológico
prevê necessidade, para toda a população mundial, de outras doses em algum
momento.
Com a grande escassez atual, porém, reivindicar
agora uma 3a. dose para alguns, quando as evidências ainda não apontam essa
necessidade imediata, mesmo para o profissional de saúde que não tenha alguma
condição adicional (idoso ou imunodeficiente), não nos
parece ético. É quase o velho jargão de "farinha pouca, meu
pirão primeiro".
Se menos de 30% da população recebeu duas doses da
vacina, essa é a verdadeira luta agora. Acelerar a vacinação para
diminuir as chances de adoecimento, transmissão, novas variantes. Uma 3a. dose
para a população em geral é desafio futuro. Exigi-la agora para alguns, quando
tantos não receberam nenhuma, não é razoável! Parece um excesso de
corporativismo.
Outro grande equívoco da sondagem feita
pelo Sindicato é sugerir que uma vacina seria "melhor" que
outra. No contexto de escassez, perguntar a cada médico qual vacina preferiria
tomar é algo absolutamente estéril, porque não é viável escolher.
E porque não há estudos comparativos entre os tipos
de vacina, capazes de garantir que uma marca seja mais eficaz que outras. Os
dados são de populações diferentes, em momentos distintos, impossibilitando
comparar eficácia.
Melhor seria se o Sindicato promovesse uma campanha
de incentivo à vacinação dos muitos médicos que, infelizmente, recusaram
o imunizante até agora.
(*) Médico infectologista. Doutor em Doenças
Infecciosas e professor da UECE.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 17/09/2021. Opinião. p.22.
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