quarta-feira, 3 de novembro de 2021

O CANTO, A COR E O SOL A SORRIR

Por Tales de Sá Cavalcante (*)

À frente, o mar, que deveria ser feminino, como em francês, "la mer", visto que a beleza feminina, por ser escultural, suplanta a masculina. À direita e à esquerda, só praia. Atrás, apenas dunas. Acima, o astro-rei, digno da música "O sole mio".

São belezas naturais a compor um lindo lugar, com recente aparição nos mapas e seculares encantos da Natureza.

Cada um tem o canto predileto e a cor preferida. Meu canto é duplo: praia e mar. Há tempos, escolhi a cor. É a da esperança, verde.

Com os cabelos já a agrisalhar, descobri que "tales" em grego significa "verdejante". Coincidência ou não, o lugar de que mais gosto chama-se Prainha do Canto Verde.

Seria Paris, mas chega-se cá, e não lá, em 1h30min, a trajar bermuda e camiseta, sem passaporte e sem a burocracia dos aeroportos.

Lá, palco do Iluminismo, e por isso Cidade-Luz, aprendemos a ciência e a filosofia com os iluminados. E cá recebemos lições empíricas de inocentes nativos, que tanto têm a nos ensinar.

Washington Olivetto, notável publicitário e gourmet, por prazer, ao defender o bom gosto em "Só os patetas jantam mal na Disney", indica um restaurante que possui barcos próprios a garantir o peixe fresco e outro que sugere a sua degustação em balcão próximo à cozinha, a evitar perda do sabor no trajeto até a mesa.

Na Prainha do Canto Verde, o pescado é sempre o adequado, pois adquirido na bucólica chegada da jangada.

A completar as coincidências, pouco antes da elaboração deste texto, recebi gentil remessa de Luciano Dídimo, meu confrade da Academia Fortalezense de Letras. Tratava-se de precioso poema do seu saudoso pai, Horácio Dídimo, a comprovar sua imortalidade acadêmica.

Emergia da pena do poeta:

"Sol / um sol maior / sorriu de leve / no meu enfim / mais do que nunca / mil vezes mil / sinto que sim / festejemos / eu festejemos / eu somos dois / morreu o antes / e agora é verde / como um depois."

Lamento não mais ser possível festejar com Horácio a notoriedade desse poema na companhia do mar, da praia, das dunas e do sol. Conforta-me o sentido de sua estrofe final: "morreu o antes / e agora é verde / como um depois."

(*) Reitor do FB UNI e Dir. Superintendente da Org. Educ. Farias Brito. Membro da Academia Cearense de Letras.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 23/9/21. Opinião, p.18.


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