Por Tales de Sá
Cavalcante (*)
À frente, o mar, que deveria ser feminino, como em francês, "la
mer", visto que a beleza feminina, por ser escultural, suplanta a masculina. À direita e à
esquerda, só praia. Atrás, apenas dunas. Acima, o astro-rei, digno da música
"O sole mio".
São belezas naturais a compor um lindo lugar, com recente aparição nos mapas e seculares
encantos da Natureza.
Cada um tem o canto predileto e a cor preferida. Meu canto é duplo: praia
e mar. Há tempos, escolhi a cor. É a da esperança, verde.
Com os cabelos já a agrisalhar, descobri que "tales" em grego
significa "verdejante". Coincidência ou não, o lugar de que mais
gosto chama-se Prainha do Canto Verde.
Seria Paris, mas chega-se cá, e não lá, em 1h30min, a trajar bermuda e camiseta,
sem passaporte e sem a burocracia dos aeroportos.
Lá, palco do Iluminismo, e por isso Cidade-Luz, aprendemos a ciência e a filosofia com os
iluminados. E cá recebemos lições empíricas de inocentes nativos, que tanto têm
a nos ensinar.
Washington Olivetto, notável publicitário e gourmet, por prazer, ao
defender o bom gosto em "Só os patetas jantam mal na Disney", indica um restaurante que
possui barcos próprios a garantir o peixe fresco e outro que sugere a sua
degustação em balcão próximo à cozinha, a evitar perda do sabor no trajeto até
a mesa.
Na Prainha do Canto Verde, o pescado é sempre o adequado, pois adquirido
na bucólica chegada da jangada.
A completar as coincidências, pouco antes da elaboração deste texto,
recebi gentil remessa de Luciano Dídimo, meu confrade da Academia Fortalezense
de Letras. Tratava-se de precioso poema do seu saudoso pai, Horácio Dídimo, a comprovar sua imortalidade
acadêmica.
Emergia da pena do poeta:
"Sol / um sol maior / sorriu de leve / no meu enfim / mais do que
nunca / mil vezes mil / sinto que sim / festejemos / eu festejemos / eu somos
dois / morreu o antes / e agora é verde / como um depois."
Lamento não mais ser possível festejar com Horácio a notoriedade desse
poema na companhia do mar, da praia, das dunas e do sol. Conforta-me o sentido de sua
estrofe final: "morreu o antes / e agora é verde / como um depois."
(*) Reitor do FB
UNI e Dir. Superintendente da Org. Educ. Farias Brito. Membro da Academia
Cearense de Letras.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 23/9/21. Opinião, p.18.
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