Por Henrique Soárez (*)
Tiquinho é marceneiro. Sua esposa foi assassinada e
ele foi expulso de sua moradia. Viu os bandidos trocarem a fechadura da sua
porta. Hoje mora de favor e se ressente de precisar pedir dinheiro. Nem espera
ter a casa devolvida. Sabe que o Estado não tem como garantir a sua segurança.
Mesmo com todos os avanços em políticas públicas no
Ceará das últimas décadas, o crime segue mais organizado que o estado. A
importante série "Guerra Sem Fim", produzida pelo Grupo O POVO, expõe
a triste realidade: as facções colocam fronteiras. Para ficar em um só exemplo:
alunos de um território não podem assistir aula em outro.
Em um "bom" ano, 40% dos homicídios no
nosso estado são solucionados. A média mundial é 63%. Defensores públicos
advogam aluguel social para as famílias deslocadas. É razoável, mas a proposta
evidencia o tamanho do problema: a moradia anterior não foi destruída por um
acidente natural. Ela está lá, ocupada por um bandido, e o Estado propõe um
paliativo.
Nós, a sociedade, abandonamos Tiquinho. Nos
encontramos próximos à anomia social. Com toda a controvérsia que envolve o
combate às drogas, não deveria ser difícil encontrar algumas unanimidades no
campo da segurança pública: é vasta a convergência entre quem valoriza o
direito à propriedade e quem coloca em primeiro lugar o direito à vida.
O problema do crime organizado é complexo. Soluções
requerem coordenação entre todos os entes federativos: segurança pública é
responsabilidade dos estados, que precisam prover especialmente visibilidade às
forças policiais; os municípios precisam prover iluminação, cultura, esporte e
educação; e a União deve orquestrar uma política nacional de segurança, além de
oferecer meios para os demais entes enfrentarem organizações criminosas que
podem ser internacionais. Tratar a doença requer também persistência. Como uma
mola que não se opõe diante de uma ação externa, as organizações criminosas
aguardam a intervenção cessar para seguir com suas atividades.
Meu voto para governador em 2022 e para prefeito em
2024 dará grande importância às propostas para lidar com o crime organizado e
as facções. Quatro anos de trabalho não resolvem, mas um dia de inação torna o
problema ainda mais entranhado.
(*)
Engenheiro eletricista, diretor do Colégio
7 de Setembro e da Uni7
Fonte: Publicado In: O Povo, de 2/12/21. Opinião, p.18.
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