quinta-feira, 16 de dezembro de 2021

CONFISSÃO DE UM VELHO ESCULÁPIO

Meraldo Zisman (*)

Médico-Psicoterapeuta

Independentemente de quem seja, ou dos momentos vividos, todo ser humano abrange o infinito universal, pois é parte dele. Não é preciso ter ou saber de tudo e, sim, possuir a certeza de que o Mundo todo se encontra dentro de nós. Por menor que seja, por mais prosaica a vida que leva, qualquer criatura guarda o Universo, por inteiro, dentro de si mesma. Daí, quando salva a vida de uma pessoa, está salvando a Humanidade.

Caso você deseje que o futuro seja melhor, estude o passado e, ao passar sua experiência para seus filhos, você a estará transmitindo também aos seus netos. Lembre-se de que o grande homem não é o conquistador. A história do futuro não será mais escrita com base nos feitos dos generais ou sobre batalhas, morticínios ou guerras, mas sobre os fazedores da Paz. 

Vamos lá ao meu desabafo:

Nunca gostei muito de esportes e até hoje os considero como uma sublimação do espírito guerreiro. Apesar de me achar um desajeitado em fazer amizades devido à minha timidez nata, terminei sendo taxado de orgulhoso. Confesso que, às vezes, mesmo depois de velho, tenho vontade de colocar uma prancheta pendurada no pescoço, com os dizeres: “Não sou chato, sou tímido e acanhado”.

Na minha adolescência, deleitava-me com a Guerra Civil Espanhola descrita por Ernest Hemingway (1899-1961) no seu emblemático “Por quem os sinos dobram?” Suas touradas, lutas de box e valentias povoaram minha mente em formação.

Comecei minha vida universitária pesquisando e denunciando a fome ancestral da maioria da população infanto-juvenil brasileira. Como não seria de estranhar, atraí críticas dos ortodoxos e também dos heterodoxos que não conseguem sair das suas desnutridas observações. Poucas foram as pessoas que me entenderam em um mundo cada vez mais interessado pelo dinheiro e pelo egoísmo.

Durante todos esses anos dedicados à Medicina, permaneci fiel às minhas leituras e muito mais à minha consciência. Para mim, o computador facilitou escrever, porém pretendo usá-lo apenas como editor de textos ou facilitador de alguma consulta na Internet.

Sempre fui muito batalhador, interessado em tudo o que acontece em minha casa e em todo o mundo. Não desejo tomar o lugar da juventude e muito menos das suas experiências arriscadas. Desde que o mundo é mundo, as gerações se sucedem... E, o pior é ser considerado um velho que se perdeu do caminho da vida.

Só ao envelhecer temos condições de nos perguntar sobre o que fizemos da nossa vida.

Sei que não valeria a pena chegar aos oitenta e cindo anos, se toda sabedoria do mundo fosse tolice perante Deus frase do romancista alemão Johann Wolfgang von Goethe (1749-1832) autor do livro intitulado “Os Anos de Aprendizado de Wilhelm Meister” e que no momento da própria morte suplicava: "deixem entrar a luz".

(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco. Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE), da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES) e da Academia Recifense de Letras. Consultante Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha).

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