Por Lauro Chaves Neto (*)
A desigualdade extrema que perdura
historicamente no Brasil é uma das nossas principais mazelas. Economicamente,
ela limita o potencial do mercado interno de alavancar o PIB e, socialmente,
exclui uma significativa parcela da população do acesso a um padrão de vida
minimamente digno.
A inflação e o salário mínimo são
dois dos principais fatores que têm impactado a desigualdade; recentemente,
ambos têm apresentado um comportamento que contribui para agravar o problema.
De 2007 até 2019, o reajuste do salário mínimo era
determinado pelo INPC mais o resultado do PIB de dois anos antes. Nos períodos
de crescimento, sempre houve um ganho real para o salário mínimo,
ano passado, quando a regra de reajuste não havia sido renovada, o salário
mínimo subiu 5,26%, inferior ao INPC de 5,45%.
Os anos de ganho real do salário mínimo promoveram
a realocação de parcela da força de trabalho na direção de
setores e empresas mais produtivos, de empresas de baixa produtividade e
remuneração para organizações com maior remuneração e produtividade.
Já a inflação oficial do Brasil, medida pelo IPCA
chegou, em agosto, a quase dois dígitos no acumulado de 12
meses (9,68%). Isso ocorreu em um contexto de extrema tensão política e de crise
hídrica, com o agravante de existir uma maior difusão inflacionária com 72% de
itens com variação de preços.
Oito dos noves grupos de bens e serviços
pesquisados pelo IBGE subiram no último mês, com destaque para transportes,
alimentação e bebidas. Lembrando que quando o Covid-19 atingiu
o Brasil, a inflação acumulada estava em 3,3% (acumulado de 12 meses até Março
de 2020).
Tentando controlar a inflação, o Comitê de Política
Monetária do Banco Central (Copom) tem elevado seguidamente a taxa básica de juros
(Selic) o que dificulta o processo de recuperação. Já a tensão política, além
dos reflexos no câmbio, provoca mais incertezas sobre a condução da
política fiscal.
Essa deterioração do cenário econômico, com aumento
da inflação e redução do salário mínimo real, pode contribuir para agravar a
desigualdade entre os brasileiros, penalizando o mercado interno e aumentando a
parcela de vulneráveis.
(*) Consultor,
professor doutor da Uece e conselheiro do Conselho Federal de Economia.
Fonte: O Povo, de 20/9/21. Opinião. p.22.
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