Por Marcelo Gurgel Carlos da Silva (*)
No calendário litúrgico cristão, o dia 29/11/2021
marca o início do Advento, período de quatro semanas que antecede ao ciclo natalino, cujo acme é
alcançado em 25 de dezembro.
Em muitos países, especialmente no mundo ocidental,
o Natal aponta para a prestes virada do ano-calendário, com a chegada do
Ano-Novo. Nesse momento festivo, independente da profissão de fé, as pessoas,
"grosso modo", aproveitando um certo recesso laboral e envoltas no
clima da confraternização universal, buscam estreitar ou criar laços de
amizade, verbalizadas em festas de Réveillon.
O Réveillon
é um objeto de consumo apropriado pelos interesses privados da
ganância e pelo uso político da parte do poder público. A Prefeitura de
Fortaleza, há alguns anos, vem investindo, pesadamente, em promover um feérico
evento, para assinalar a passagem do ano, com vultuosos recursos, em uma acerba
disputa para se rivalizar com o congênere da Cidade Maravilhosa.
Antes da pandemia da Covid-19, a Prefeitura da
capital cearense propagava a presença de mais de um milhão de participantes em
um delimitado espaço físico, situado na Praia de Iracema, onde a festa se
realiza. Sem entrar nos méritos das cifras arroladas, as imagens captadas
nesses festejos locais identificam uma multidão apinhada.
Após dezoito meses de agruras dos fortalezenses, na
convivência de ondas pandêmicas que se sobrepuseram, sem um claro intervalo
entre elas, experimentam-se dois meses de certa acalmia dos números de óbitos e
casos de Covid-19, no mesmo compasso em que se avançou na cobertura vacinal
contra o novo coronavírus.
O recente descenso da pandemia ensejou a
flexibilização das medidas sociais restritivas, o que suscitou a mobilização
para reativar o Réveillon municipal,
algo que pode ser açodado tendo em conta a ressurgência da Covid-19, na forma
de uma quarta onda, que começa a assolar alguns países europeus atualmente,
conforme alertou a Dra. Mariângela Simão, diretora-geral adjunta da OMS, na sua
conferência da abertura do XI Congresso Brasileiro de Epidemiologia, em
transmissão online a partir de Fortaleza.
As palavras de prudência do Gov. Camilo Santana e do
seu secretário de saúde Marcos Gadelha sobre o citado Réveillon são dignas de encômios.
(*) Professor universitário e médico.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 9/12/2021. Opinião. p.21.
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