Por Tales de Sá
Cavalcante (*)
A polêmica era sobre questões do Enem com ideologia
à esquerda ou à direita e se deveriam suprimir assuntos como gênero, escravidão
ou preservação da Amazônia. É impossível o Exame não conter o que houve em
nossa História, até porque se um objeto do conhecimento é relacionado deve ser
exigido. O condenável é a resposta admitida como correta ser desvirtuada por
ideologia de uma ou outra corrente.
Imagine-se sentado, sob tensão, durante 5h e 30min e
ainda ser obrigado a ler tantos textos cujo número de dígitos não é apenas
2.100 caracteres, o tamanho deste escrito, mas 111.304, o equivalente a 53
artigos como este. Seriam umas 2 horas de leitura, sem contar o tempo de
interpretação. Depois, acresça 3 horas e meia para analisar, interpretar e
escolher qual a opção correta em 90 questões e preencher o cartão-resposta.
Após ler as instruções, você irá analisar, interpretar, decidir e escrever
sobre o tema proposto, numa redação de 8 a 30 linhas. A maratona, em vez de
avaliar apenas competências e habilidades da Matriz de Referência do Enem,
avalia também velocidade na resolução de itens.
A 2ª prova, no dia 28, domingo, não terá Redação,
mas novamente pesará a velocidade de resolução de outros 90 quesitos, a serem
vencidos em 5 horas, isto é, 3 minutos e 20 segundos para cada pergunta.
Preocuparam-se demais com os ingredientes e esqueceram tamanho e qualidade do
bolo. Outra falha do Enem é a pré-testagem dos itens, realizada
obrigatoriamente com bastante antecedência, a preservar o sigilo, o que impede
uma questão de Atualidades, por mais vultoso que seja o tema.
A nova lei do Ensino Médio quase que obriga duas
etapas no Enem. Sugiro para a 1ª fase um provão sobre Formação Geral Básica,
elaborado pelo Inep, nos moldes do 1º Enem, em 1998, com 63 testes. A 2ª etapa,
com regionalismos, seria discursiva, em função da área pretendida pelo
candidato, ligada aos itinerários já cursados por força da nova lei. A logística
das duas provas, a elaboração e a correção da 2ª fase ficariam sob a
responsabilidade das universidades federais em suas regiões. Assim, teríamos
uma melhor avaliação, maior eficiência e menor custo.
(*) Reitor do FB
UNI e Dir. Superintendente da Org. Educ. Farias Brito. Membro da Academia
Cearense de Letras.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 24/11/21. Opinião, p.21.
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