Por Sofia
Lerche Vieira (*)
A prematura partida de Marília Mendonça despertou sentimento de dor
coletiva que não se explica pela razão.
Em quaisquer circunstâncias, a morte é sempre um
mistério. Quando precoce, muito mais. Se é de um ícone, em qualquer área de
atuação, desperta um sentimento de dor coletiva nem sempre explicável pelos
argumentos da razão.
A prematura partida de Marília Mendonça foi assim.
Não apenas seus fãs em lágrimas lamentaram a perda, como todos os brasileiros.
Uma jovem mãe. Uma compositora e cantora talentosa que quebrou paradigmas. Uma
unanimidade nacional. Ícones em outras áreas, ao partirem, deixaram atrás de si
um rastro de tristeza. Ayrton Senna (1994) e Eduardo Campos (2014), exponentes
no esporte e na política, podem ser lembrados por motivos semelhantes.
Ayrton, nosso Rei da Chuva, que comovia o país ao
desfilar sua vitória agasalhado pela bandeira nacional nas corridas de Fórmula
1. Seu cortejo fúnebre levou multidões às ruas de São Paulo. Daquele dia,
ficaram arquivados na memória os dizeres de uma faixa: “Ayrton, sem você as
tarrafes de domingo nunca mais serão as mesmas”. De fato; não foram.
O que dizer de Eduardo Campos, ex-senador e
governador, morto em plena campanha para a presidência da república? Também sua
precoce morte despertou comoção em todos. A tradução de uma esperança se
contentou em ser sonho. Daqueles dias de assombro, entre tantos artigos e falas
de admiração, permaneceu a imagem de uma charge publicada na Folha de São
Paulo. Eduardo pilotava um aviãozinho rumo ao céu. O título revisitava uma
canção de Roberto Carlos, imprimindo-lhe novas cores: “estrelas mudam de
lugar”.
Situações como essas fazem lembrar que a vida está
sempre por um fio; que a transitoriedade é um componente essencial de nossa
humanidade; e, que o efêmero é uma característica do ato de existir. Em um
instante tudo pode se esvanecer, restando o espanto perante a dor do que se
foi.
Nossas estrelas foram brilhar em outras paragens.
Não temos respostas para o enigma de suas vidas interrompidas. Resta, talvez, o
consolo das palavras do poema “Ausência”, de Carlos Drummond de Andrade: “as
coisas findas, muito mais que lindas, estas ficarão”. Será?
(*)
Professora do Programa de Pós-Graduação
em Educação da Uece e consultora da FGV-RJ.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 8/11/21. Opinião, p.22.
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