Por Pe. Eugênio
Pacelli SJ
(*)
Todos os anos é
possível observar casas, lojas e ruas decoradas, anunciando a proximidade do
Natal. Contudo, uma pergunta me inquieta: qual o real sentido desta festa? Acredito
não ser o único a trazer essa inquietação no coração. Penso que muitos sentem que
a superficialidade chegou à celebração deste evento da agenda cristã, tão
sufocada por interesses consumistas e a vergonhosa manipulação e distorção dos
símbolos religiosos. São excessos e despropósitos que maculam o verdadeiro sentido
do Natal.
O secularismo e
o consumismo obscurecem no coração humano o sentido e o desejo de celebrar.
Afinal, como celebrar o mistério de um Deus feito homem, numa sociedade que
vive praticamente de costas para Deus e destrói a dignidade do seu rosto
presente em cada ser? Para muitos, pouco importa crer ou não que Cristo nasceu.
Sua vida segue do mesmo jeito. Será? Muitos parecem não necessitar de Deus e
não acreditar que a proximidade com Ele mude algo em sua existência.
Há muito tempo,
alguns filósofos falaram da “morte de Deus”. Não será que a morte de Deus
arrasta consigo, também, “a morte do homem”? Penso que isso possui uma relação
direta. Quando se tira Deus do horizonte humano, abre-se espaço para que a dignidade
humana seja violentada em toda a sua amplitude e se reduz a existência humana a
nada. O Natal não pode ser a festa dos que se sentem distantes de Deus. O Deus
que se aproxima nos atrai ao seu coração bom e misericordioso. No coração desta
festa, há uma chamada para que absolutamente todos se aproximem de Deus, que se
mostra na fragilidade de uma criança.
O Deus
inacessível se fez humano e sua proximidade misteriosa nos envolve. No menino
nascido em Belém, a verdade e a bondade de Deus pelas criaturas aparecem de
maneira mais terna e bela. Não necessitamos do renascimento de Deus em nós? Que
Sua luz brote em nossas consciências, que abra caminho em nossos conflitos e
contradições.
Ele pode nascer
em cada um de nós. Felizes os que, diante do barulho e de todos os apelos do
mundo, ousam abrir o coração ao Deus Emanuel e O acolhem no presépio de seu
coração sedento e agradecido. Esses viverão o Verdadeiro Natal...
(*)
Sacerdote jesuíta e mestre em Teologia. Diretor do
Seminário Apostólico de Baturité.
Fonte: O Povo, de 18/12/2021. Opinião. p.18.
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