Por Keny Colares (*)
A pandemia da covid-19 representa a maior emergência
sanitária global do último século, causando mais de 5 milhões de óbitos, sendo
o Brasil o segundo país mais atingido. O enfrentamento inicial da pandemia se
baseou em medidas comportamentais e rastreamento de casos e contatos, embora a
incorporação de vacinas eficazes e seguras tenha sido o avanço mais
significativo na proteção contra a infecção, transmissão, adoecimento,
hospitalização e morte.
Apesar disso, ainda observamos novos surtos da
doença em diversos países do hemisfério norte, mesmo com a maioria da população
vacinada. O fenômeno parece relacionado à menor adesão às medidas
comportamentais, circulação de variantes virais mais transmissíveis, declínio
temporal da proteção imune pós-infecção ou vacina, além da hesitação vacinal de
parcela da população. Isso nos causa grande preocupação ao nos aproximarmos do
primeiro semestre do ano, quando costuma haver predomínio das viroses
respiratórias no hemisfério sul.
A vida em sociedade marcou a evolução da humanidade
por milênios. Nossos antepassados optaram pela colaboração em comunidades
tribais, marcadas pela interdependência, como forma de sobreviver às ameaças de
extinção. Hoje somos quase 8 bilhões de terráqueos cada vez mais aglomerados em
grandes metrópoles, conectados e interdependentes. Por outro lado, a densidade
demográfica, mobilidade humana e mudanças ambientais criaram situação vantajosa
para a disseminação de inimigos microscópios antigos e novos, como o vírus da
covid, tornando quase certo o enfrentamento de novas pandemias no futuro
próximo.
Nossa adaptação a esta nova realidade será decisiva
para o futuro da humanidade. Em uma sociedade complexa e interligada, as
decisões individuais trazem impacto coletivo cada vez maior, contrapondo o
direito individual da recusa à vacinação ao interesse coletivo de preservação
da saúde pública. Neste contexto, a primazia do interesse coletivo e do direito
à vida deve ser observada. O caminho do diálogo deve ser preferencial e a
imposição física da vacinação é inaceitável. Contudo, a restrição da circulação
dos indivíduos reticentes em ambientes coletivos está sendo implementada em
todo o mundo e deverá em breve fazer parte da nossa vida, como o semáforo, a
carteira de habilitação e os infalíveis impostos.
(*) Médico infectologista e professor da Unifor.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 30/11/2021. Opinião. p.18.
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