Por Érico Arruda (*)
Últimos dias do ano de 2021, tentava tirar alguns
dias de férias, mas a epidemia de influenza, já com suas garras à mostra, me
dava certeza que não seria período de descanso. Mensagem de um amigo chega
pelas redes sociais: "seu áudio enviado para a família viralizou nos
grupos de WhatsApp. Isso não vai lhe prejudicar?".
Respondi que a mensagem era minha opinião sobre
o momento epidemiológico na cidade, incentivando meus primos mais
próximos a não fazerem confraternizações de fim de ano, exceto com o pequeno
núcleo familiar. "Tomara que ajude outros a minimizar seus riscos de
infecção, pois o evento dos primos já consegui evitar", complementei.
A terceira onda de Covid-19 tornou-se
evidente nos primeiros dias de 2022. Voltei antecipadamente das férias para o
trabalho no Hospital São José, dado o grande número de colegas afastados por
infecção por influenza ou Covid-19, e para o consultório, constatando o
que já se percebia das análises clínicas e epidemiológicas preliminares de
outros países: o grande poder de disseminação da nova variante do SARS-CoV-2
(ômicron), que já predomina em Fortaleza, com famílias inteiras infectadas a
partir de um único encontro de réveillon; e a menor gravidade da doença, refletindo
em menos internações, entre aqueles que receberam pelo menos duas doses de
vacina, em comparação às ondas anteriores.
Este é o ponto mais relevante: não fosse o esforço
de vacinar a população no ano de 2021, o desespero por ventiladores e
leitos de UTI já estaria nas manchetes dos noticiários nacionais e locais.
Sem carnaval e com ampliação de vacinação de crianças, que o governo federal e
sua política negacionista infelizmente retardou, poderemos alcançar
em mais 2 a 3 meses, controle desta terceira onda.
Mas e a quarta onda? Será inevitável, se o mundo não
se convencer que enquanto aproximadamente 80% das pessoas do planeta não
receberem pelo menos duas doses de vacina, continuaremos programando
vários reforços vacinais e contando as ondas de Covid-19 nas letras do alfabeto
grego e suas misturas, como a deltacron já descoberta no Chipre.
(*) Médico infectologista. Doutor em Doenças
Infecciosas e professor da UECE.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 21/01/2022. Opinião. p.18.
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