M de maravilha! B de Beleza!
Telefone
de "numeral" desconhecido toca, é a voz conhecida do Jair Poeta dos
Cachorros Moraes, que me toca o íntimo de alegria. Falar com ele alivia
tensões, amigo-irmão demais animado. O grande artista da Vila União inspira;
pra mim, é bem-vinda presença no enfrentamento à tosse de cachorro renitente e
ao aguaceiro no pau da venta que ora me acomete. Careço de espairecer, de me
abrir com as "mungangas" do Jair.
Já
me sentindo contagiado pelo bom-humor do notável líder da Banda Marmota, só de
ouvir-lhe a voz ao celular, me esforço em suavizar o bodejado febril. Atacado
de murrinha nascida do estalecido-19 (essa vontade medonha e infame de me
lascar), acredito que a cada dia bastam as suas catrevagens. Por isso, me encho
de boa vontade.
-
E a vida, meu poeta?
-
Uma "M"! E o mundo, uma "B"!
-
Já te conheci mais otimista! - imaginei o pior.
-
Conversa é essa, patrão! A vida é uma Maravilha, o mundo é uma Beleza!
Pedi,
então, contasse as novidades, uma historinha pra me fazer rir, naquela ligação.
Contou a dos "Três Reis Magros". Até imaginei Jair fazendo "boca
de riso" ao falar de um tal Zé Coivara, bebinho que estava a um canto da
bodega, isolado, ouvindo a explanação professoral de dois colegas de cana (o
Olavo Maré e o Tito Cancão) acerca do nascimento de Jesus: a profecia, a noite
de estrelas, José e Maria, Nazaré da Galileia. Zé, sem ficha, doido pra entrar
no papo.
Vez
ou outra levantava o braço, pedia aparte, mas os companheiros se faziam de
rogados, dando suas versões sobre o episódio da chegada do Salvador ao Planeta.
Agora, em pauta, a estrela-guia, a manjedoura, os animais, os pastores, os Três
Reis Magos... Pronto, Coivara não podia desperdiçar a oportunidade. Ficou de pé
e gritou: "Pedido de colega, deixa eu falar agora?!?" A moçada,
empolgada na contação, nem aí pra ele.
Quando
Olavo Maré e Tito Cancão metiam já na confusão o Herodes, a fuga do menino
Jesus pro Egito no lombo do jumento, Zé Coivara, tomado de espírito altamente
incensado e mirrado, dá uma chibatada na mesa e manda:
-
É sobre os três reis magros que eu preciso falar, ora piula!!! Conheço eles!!!
-
Eles quem?!? - indaga Olavo Maré, demais interessado.
-
Magão, Maguim e Mago Véi!
A "M" explosiva
Deu-se
em Cedro. Juceza contou e eu acredito. Um homem bom, por nome Pedro (Pedro
Gago, por razões óbvias), desempregado, buscou trabalho na casa de um senhor de
posses, o Edgar. Que nada tinha a oferecer de mais digno na ocasião para o moço
desventurado faturar algum. Mas, peraí!
-
Pedro! Lembrei que a fossa da casa lá de cada tá cheia! Te astreve a disgotar?
-
Eu tenho escolha, seu Edgar? Bora justar a impeleita! É tanto!
-
Fechado!
Disgotamento
marcado pra meia noite do mesmo dia. Pedro foi municiado de enxada, pá e
picareta, litro de cana, balde e corda, lamparina grande e querosene. A luz
bruxuleante do candeeiro alumiava o ambiente, enquanto o simpático gaguinho
"mergulhava" no que fazer lá embaixo. Três da manhã e, porque onde
estava não era possível divisar o quanto de "M" havia ainda pra
disgotar, o humilde servidor sobe à superfície, pega a lamparina do pavio
graúdo aceso e estica o braço com ela fossa a dentro.
Marrapaz!
Pense numa explosão grande demais! Pedro Gago grita de dor, cheio de
queimaduras. "M" é gás puro. Socorrido pelo povo da casa de seu
Edgar, é levado ao hospital. Explica ao médico o ocorrido, e arremata
empapocado:
-
Ô seu Edgar da bosta explosiva! Eu lá sabia que aquele hômi comia gasolina!
Fonte: O POVO, de 21/01/2022. Coluna “Crônicas”, de Tarcísio Matos. p.2.
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