Por Robério
Dias Leite (*)
Até 29/11/2021, lamentavelmente 558 crianças de 5 a
11 anos morreram de Covid-19 no Brasil, o que representa 7% das mortes
nessa faixa etária nesse período e torna essa doença mais letal que as principais
causas de morte nesse grupo, inferior apenas às mortes por acidentes de
trânsito. Não há como medir o sofrimento dessas crianças e das suas famílias.
Definitivamente, mesmo para as crianças, não é
uma "gripezinha", deixa sequelas e pode ser letal. Comparado à
Europa e aos Estados Unidos, o número de mortes de crianças por Covid-19 no
Brasil é de 4 a 10 vezes superior.
Como se sabe, o vírus irá infectar preferencialmente
os indivíduos não vacinados e, por isso, com a nova onda da variante
Ômicron, as hospitalizações de crianças cresceram 60% nos Estados Unidos e não
há motivos para crer que será diferente por aqui. Agora, está mais claro do que
nunca que as vacinas representam a prevenção mais eficaz de mortes e
hospitalizações pela Covid-19.
Felizmente, os estudos clínicos da vacina
fizer-BioNTech demonstraram eficácia, inclusive com resposta imunológica mais
robusta que nos adultos, e também segurança nas crianças entre 5 e 11 anos.
Aproximadamente 8,7 milhões de doses dessa vacina já
foram administradas a crianças nessa faixa etária entre novembro e dezembro
2021 nos Estados Unidos. Os efeitos colaterais mais comumente
relatados foram leves, como dor no local da injeção, fadiga e dor de cabeça,
mais comuns após a segunda dose, confirmando a segurança da vacina na vida
real, não somente nos estudos.
Diante desses fatos, como ficaria a
consciência de um pai ou de uma mãe, caso o filho morra ou tenha que ser
hospitalizado por terem se recusado a protegê-lo com a vacina? Na contramão da
ciência e dos fatos, assistimos incrédulos e indignados a um médico, ministro
da saúde, semear a dúvida e promover estratégias ardilosas para impedir a
proteção da saúde das crianças brasileiras.
Temos pressa, pois uma nova onda da
Covid-19 se inicia no Brasil e não podemos perder tempo. E tempo, nesse caso,
significa a perda de preciosas vidas.
Trata-se de velar pelo direito à vida e à saúde, uma
obrigação dos pais, do poder público e da sociedade em geral, conforme
estabelecem a Constituição Federal e o Estatuto da Criança e do
Adolescente.
(*) Médico. Infectologista pediátrico do Hospital São José de
Doenças Infecciosas e professor da Faculdade de Medicina da UFC.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 5/01/2022. Opinião. p.17.
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