terça-feira, 11 de janeiro de 2022

ALUNO OU CLIENTE?

Por José Lima de Carvalho Rocha (*)

Faz parte do cotidiano das pessoas comprar produtos ou contratar serviços. Nas duas situações, são feitas escolhas, e, quando o produto comprado não atende às suas expectativas ou o serviço diverge do pretendido, o consumidor devolve o objeto de compra ou faz o rompimento do contrato.

E se o consumidor deseja resultado ao final da prestação de serviço, mas não sabe como proceder durante o caminho? À vista disso, a prestação dos serviços educacionais e os da saúde têm características bem peculiares. O contratante deseja excelente resultado; no entanto, contrata o serviço sem conhecer, exatamente, quais são os procedimentos desenvolvidos em cada etapa. Ele precisa, então, confiar bastante no contratado.

Frequentemente, alunos reivindicam a seus professores os conteúdos que gostariam de estudar, como gostariam de estudar e, ainda, como pretendem ser avaliados. Ao final dos ciclos de estudo, são submetidos a avaliações externas, como o Enem, para os egressos do ensino médio, e provas de residência ou da OAB para médicos e advogados respectivamente.

Para que os objetivos finais de formação e instrução sejam alcançados, o aluno deve cumprir orientações e determinações, as quais podem não ser bem aceitas, pois muitos deles se sentem clientes, e, como tais,  podem aceitar ou não a prestação de um serviço além de, em muitos casos, determinar como esse serviço deve ser realizado.

Por definição, aluno é aquele que recebe instrução e formação de um ou de vários mestres. Indivíduo que já se considera detentor dos conhecimentos e da formação não necessita de aulas. Ademais, pais e alunos que desconhecem a distinção entre cliente e estudante têm a grande possibilidade de entrar em conflito com os estabelecimentos de ensino e, consequentemente, com seus professores.

Em suma, alunos que já são adultos ou pessoas responsáveis por estudantes menores de idade precisam escolher os locais de ensino nos quais possam confiar. Se confiam, necessitam esperar os resultados do processo educacional.

Gerenciar ambientes de aprendizagem é muito difícil para os mestres, pois a agressividade dos alunos que se entendem clientes dificulta atingir satisfatoriamente os objetivos de aprendizagem.

Alunos que tentam ensinar a seus professores durante as aulas tornam a mediação do espaço de aprendizagem muito confusa.  Por certo, os bons professores gostam sempre de receber sugestões. Os mestres tentam, cotidianamente, estimular seus alunos para o desenvolvimento da aprendizagem. É fato que o conflito prejudica a qualidade educacional, enquanto o diálogo leva ao crescimento de todos os envolventes.

Se eu sei que não sei, preciso de um mestre para a orientação.

Se eu sei que sei, a humildade se faz necessária.

(*) Médico e pedagogo. Reitor do Centro Universitário Christus (UniChristus) e diretor do Colégio Christus.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 30/12/2021. Informe publicitário. p.9.

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