Meraldo
Zisman (*)
Médico-Psicoterapeuta
…
Ululante… A consequência disso é o fardo desproporcional de depressão sobre as
pessoas com menores recursos. Apelo como médico e cidadão para que se pare de
ficar repisando fatos conhecidos por todos. É desnecessário realizar mais
pesquisas sobre o assunto…
O óbvio, ainda que ululante e redundante,
aparece sempre na imprensa e agora, com as mídias sociais, transborda e
regurgita até nos meios ditos científicos ou acadêmicos trazendo, em vez de
informação, medo, ansiedade, preocupação para todas as pessoas, independente da
classe social a que pertençam. Imaginem os que já estão fragilizados pela
pobreza extrema.
No que lhe concerne, o vocábulo ululante é
um adjetivo que qualifica algo ou alguém que ulula, ou seja, que uiva,
grita, berra ou emite sons de lamento. Ulular vem do latim ululare, que
significa uivo dos cães e outros animais da família dos canídeos. O termo
ululante se popularizou através do escritor brasileiro Nélson Rodrigues, que
escreveu o livro “O Óbvio Ululante”, em 1950. Neste caso, a palavra ululante
também pode expressar o sentido de óbvio, e leva o sentido figurado de ululante
a uma referência direta ao seu significado original: “gritar o óbvio” ou “a
verdade que grita” ou ainda que esteja “na cara” e as pessoas não enxergam. É
algo excessivamente óbvio e que dispensa explicação devido à sua clareza.
A pandemia do COVID-19, como toda e qualquer
calamidade, aumenta o medo e a ansiedade que, associada a eventos negativos,
vem acompanhada de dramáticas consequências econômicas e psicossociais, o que
também ocorreu em todas as outras catástrofes do passado, de qualquer espécie.
Mesmo antes do endeusamento dos algoritmos,
avanços tecnológicos, informática e a consequente ansiedade coletiva, já houve
tragédias recentes tais como os ‘tsunamis’, ataques terroristas, guerras, 11 de
setembro, o furacão Katrina, os distúrbios de Hong Kong, a violência policial.
Diria, são todos gatilhos para aumentar o sentimento de medo, de insegurança,
gerador de ansiedade continuamente acentuada nos segmentos sociais
desprotegidos, tornando-os mais vulneráveis às intempéries vitais que, de tão
gritantes, não passam de simples repetições que não carecem de provas
estatísticas ou ‘científicas’.
Motivo: devido à carga desproporcional sobre
as pessoas com menos recursos, os esforços (sic) da sociedade para apoiar tais
pessoas serão as principais vítimas, algo que já sabíamos antes do aparecimento
do tal do Covid-19. A História da humanidade já demonstra isso, sobejamente.
A consequência disso é o fardo
desproporcional de depressão sobre as pessoas com menores recursos. Apelo como
médico e cidadão para que se pare de ficar repisando fatos conhecidos por todos.
É desnecessário realizar mais pesquisas sobre o assunto.
Aviso. De altruísmos científicos e
noticiosos, estamos todos cheios e até intoxicados, empeçonhados e envenenados.
A verdade quando grita não necessita de comprovações científicas… Diante da morte
todos nós viramos filósofos. Para terminar, aconselho que se lembrem que após a
Primeira Guerra Mundial veio a epidemia apelidada de gripe espanhola.
Decorridas algumas décadas, a Segunda Guerra Mundial eclodiu…
Não acredito que haverá mudanças significativas.
O que vinha ocorrendo antes da atual pandemia fará progredir apenas o que já
estava prosperando. Sem que a isso possa ser aplicado o apelido recém-criado
de ‘novo-normal’.
(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco. Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE), da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES) e da Academia Recifense de Letras. Consultante Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha).
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