Por Lauro Chaves Neto (*)
O processo inflacionário atual, tanto no Brasil
como mundo afora, tem sido tratado, pelas autoridades monetárias e pela maior
parte dos analistas econômicos, como um fenômeno transitório. Defendem que os
preços dos serviços tendem a recuar após o consumo reprimido, como consequência
da pandemia e das suas respectivas medidas de combate, choques de
oferta, como a desestruturação das cadeias produtivas e de logística, alta das
commodities, especialmente alimentos e petróleo, entre outros.
A sociedade brasileira está sentindo no bolso
os efeitos da inflação, EUA, Alemanha, Japão e até a China são
outros exemplos de países afetados por esse movimento que toma proporções
globais. A grande questão que deve ser debatida é na hipótese do comportamento
ascendente da inflação se tornar persistente e não transitório, estariam as
autoridades monetárias e fiscais dispostas a usar as ferramentas necessárias e
na intensidade adequada?
Se os agentes econômicos mantiverem as expectativas
de que a inflação continuará com comportamento crescente e persistente, suas
decisões serão afetadas. Aqueles que se encontram fora do mercado de trabalho,
desempregados e desalentados, passarão a aceitar oportunidades de subempregos e
precarização, as famílias que conseguiram manter suas rendas vão antecipar o
consumo de bens essenciais para fugir da elevação dos preços e
vão restringir ainda mais o consumo de algum bem ou serviço não essencial, as
empresas vão antecipar reajustes para tentar defender suas já achatadas margens
e investidores fugirão de ativos nominais.
Antigamente, os Banco Centrais tinham o papel
principal, e as vezes quase único, de zelar pela estabilidade na economia,
hoje, a exemplo do Banco Central Europeu, existem outros objetivos como os
relativos a mudança climática, a sustentabilidade e as desigualdades no
mercado de trabalho.
O controle do processo inflacionário tenderá a ter
mais sucesso quanto maior for a credibilidade das autoridades monetária e
fiscal, a estabilidade obtida após o Plano Real foi condição necessária, porém
não suficiente, para o ciclo de desenvolvimento que o Brasil teve nos 16 anos
de FHC e de Lula. Várias políticas públicas foram exitosas,
mas, se tivesse permanecido um cenário de inflação elevada, com períodos de
hiperinflação, provavelmente os resultados teriam sido outros.
(*) Consultor,
professor doutor da Uece e conselheiro do Conselho Federal de Economia.
Fonte: O Povo, de 13/12/21. Opinião. p.20.
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