Por Carlos Roberto Martins
Rodrigues Sobrinho (Doutor Cabeto) (*)
Em 15 de março de 2020, há exatos dois anos foi
diagnosticado o primeiro caso de Covid-19 no Estado
do Ceará. A primeira onda aconteceu precocemente em relação ao restante do
Brasil e assumiu proporções gigantescas, inicialmente em Fortaleza devido à
alta densidade populacional e ao grande número de assentamentos precários, eis que mais
da metade da população vive miseravelmente em um só cômodo.
Dessa forma, a pandemia descortinou
uma realidade perversamente escondida. A mortalidade foi muito maior nos pobres
e nos idosos pobres. As mortes inicialmente permaneceram
desconhecidas à maior parte da população mais abastada. Aos poucos o quadro se
agravou, e outras classes e faixas etárias foram brutalmente acometidas.
Tudo só não foi pior devido à dedicação de
trabalhadores da saúde incansáveis, principalmente nos órgãos públicos, que
anônimos aos poderosos, foram responsáveis por mais de 95% do atendimento. As
internações aconteceram em todas as unidades. Os hospitais foram transformados
em unidades de Covid e as UPAs (Unidades de pronto atendimento) foram
transformadas em hospitais. Em poucos meses foram criados cinco mil leitos
extras, sendo mil e quinhentos de terapia intensiva, espalhados em
todas as regiões do Estado.
Tudo foi planejado em poucos meses e, assim,
evitou-se uma tragédia
anunciada de um sistema de saúde abandonado pelas
autoridades. Pois, no início da pandemia, o sistema contava somente com pouco
mais de 400 leitos de UTI, já havia um déficit de décadas.
A força de trabalho contou com a dedicação
inesquecível de todos. As enfermeiras cumpriram além do juramento, as
fisioterapeutas fizeram o impossível. Entre os médicos, principalmente os mais
jovens e pouco experientes fizeram a maioria. Aceitaram o desafio sem
pestanejar.
Alunos anteciparam a formatura e assumiram postos no
front, mesmo sem o treinamento adequado. Esses fizeram a
diferença!
Mas, infelizmente, foram milhares de mortes, entre
jovens e idosos, famílias decepadas por inteiro, inúmeros órfãos de pai e mãe. Em 18 de maio
faleceram no Ceará 267 pessoas por Covid. Poderia ter sido ainda pior, já que
os números apontavam para aproximadamente 400 mortes por dia. Foi para nunca
mais esquecermos...
(*) Médico. Professor da UFC.
Ex-Secretário Estadual de Saúde do Ceará.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 17/03/2022. Opinião. p.19.
Nenhum comentário:
Postar um comentário