Por Lígía Kerr (*)
O cenário da Covid-19 vivido no Brasil
depende e dependerá bastante do que está acontecendo em outros países e dentro
do próprio país. Entre o final do ano passado e o início de 2022, a variante
Ômicron promoveu um surpreendente aumento da Covid-19 em vários países.
A vacinação não é homogênea e, apesar de
continuar protegendo contra infecções graves e óbitos, a vacina protege menos
contra infecções. Muitos governantes retiraram o uso obrigatório das máscaras
em ambientes abertos e/ou fechados. E mais, retiraram outras medidas
importantes no controle, como o distanciamento físico, permitindo intensas
aglomerações em grandes eventos.
A combinação desses fatores amplificou
exageradamente a reprodução da Ômicron resultando em uma outra
variante, a BA.2. Observamos, perplexos, as curvas de casos, internações e
óbitos de vários países europeus e asiáticos subirem novamente.
Nos Estados Unidos, os casos e óbitos ainda não
estão aumentando, mas o monitoramento recente do esgoto mostra 1.000% de
crescimento da presença da nova variante nas últimas semanas, 40% de aumento na
média de casos em Nova Iorque e a infecção pela BA.2 dobra a cada 7 a
8 dias em Connecticut.
Seria este contexto nacional e mundial o momento adequado
para liberar o uso de máscaras, mesmo nos ambientes externos, seja no
Ceará, no Brasil ou em outro país no mundo. Será que todos nós entendemos o
mesmo sobre o que seja um ambiente aberto? É um ponto de ônibus similar a um
estádio de futebol? Ficará a cargo de cada um definir o que é aglomerado ou
não?
O uso das máscaras evitou milhões de casos de
Covid-19, além de reduzir drasticamente outras Síndromes Respiratórias Agudas
Graves, como a influenza. Os benefícios do seu uso são muito superiores
aos incômodos que elas causam. E se muito mais pessoas, globalmente e no
Brasil, estivessem vacinadas e persistido no uso das máscaras,
o Sars-CoV-2 não teria tido todas as inúmeras oportunidades que vem
tendo de se reproduzir e gerar esta diversidade de variantes que vem se
disseminando e matando milhões de pessoas. Estamos errando feio em nosso
aprendizado sobre esta pandemia.
(*) Médica epidemiologista e
professora da UFC. Vice-presidente da Abrasco.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 26/03/2022. Opinião. p.18.
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