quarta-feira, 27 de abril de 2022

DEVERÍAMOS TIRAR AS MÁSCARAS AGORA?

Por Lígía Kerr (*)

O cenário da Covid-19 vivido no Brasil depende e dependerá bastante do que está acontecendo em outros países e dentro do próprio país. Entre o final do ano passado e o início de 2022, a variante Ômicron promoveu um surpreendente aumento da Covid-19 em vários países.

A vacinação não é homogênea e, apesar de continuar protegendo contra infecções graves e óbitos, a vacina protege menos contra infecções. Muitos governantes retiraram o uso obrigatório das máscaras em ambientes abertos e/ou fechados. E mais, retiraram outras medidas importantes no controle, como o distanciamento físico, permitindo intensas aglomerações em grandes eventos.

A combinação desses fatores amplificou exageradamente a reprodução da Ômicron resultando em uma outra variante, a BA.2. Observamos, perplexos, as curvas de casos, internações e óbitos de vários países europeus e asiáticos subirem novamente.

Nos Estados Unidos, os casos e óbitos ainda não estão aumentando, mas o monitoramento recente do esgoto mostra 1.000% de crescimento da presença da nova variante nas últimas semanas, 40% de aumento na média de casos em Nova Iorque e a infecção pela BA.2 dobra a cada 7 a 8 dias em Connecticut.

Seria este contexto nacional e mundial o momento adequado para liberar o uso de máscaras, mesmo nos ambientes externos, seja no Ceará, no Brasil ou em outro país no mundo. Será que todos nós entendemos o mesmo sobre o que seja um ambiente aberto? É um ponto de ônibus similar a um estádio de futebol? Ficará a cargo de cada um definir o que é aglomerado ou não?

O uso das máscaras evitou milhões de casos de Covid-19, além de reduzir drasticamente outras Síndromes Respiratórias Agudas Graves, como a influenza. Os benefícios do seu uso são muito superiores aos incômodos que elas causam. E se muito mais pessoas, globalmente e no Brasil, estivessem vacinadas e persistido no uso das máscaras, o Sars-CoV-2 não teria tido todas as inúmeras oportunidades que vem tendo de se reproduzir e gerar esta diversidade de variantes que vem se disseminando e matando milhões de pessoas. Estamos errando feio em nosso aprendizado sobre esta pandemia.

(*) Médica epidemiologista e professora da UFC. Vice-presidente da Abrasco.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 26/03/2022. Opinião. p.18.

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