Meraldo
Zisman (*)
Médico-Psicoterapeuta
No caso do Brasil, o conceito
clássico de populismo tem muita associação com o período de 1930 a 1964,
considerado o auge do populismo no nosso país. Ainda assim, a definição de
populismo arrastou-se para o século XXI e está muito relacionada a governos que
possuem um grande apelo com as camadas mais pobres.
A definição de populismo é bastante complexa, mas, de uma
forma geral, quando o termo é utilizado, se refere a práticas políticas
exercidas por governos, sobretudo da América Latina. As economias da região se
contraíram em cerca de 8% em 2020. Como consequência, a América Latina terá
cerca de 40 milhões de “novos pobres”, elevando a taxa de pobreza para pelo
menos um em cada três habitantes. Neste 2021 e nos anos subsequentes as consequências
socioeconômicas da pandemia permanecerão ou aumentarão.
A maioria dos países terá dificuldade para recuperar a
renda de mais da metade da população que antes já vivia na miséria, acobertada
por anos e anos de uma política perversa que é a nossa realidade nacional ou
continental. Com uma dívida pública acima de 80% do PIB, a América Latina
pressionará por mais ajuda do Fundo Monetário Internacional (FMI) e o resultado
pode vir a ser desastroso como o foi, no século passado.
No caso do Brasil, o conceito clássico de populismo tem
muita associação com o período de 1930 a 1964, considerado o auge do populismo
no nosso país. Ainda assim, a definição de populismo arrastou-se para o século
XXI e está muito relacionada a governos que possuem um grande apelo com as
camadas mais pobres.
Até na religião, para citar apenas uma área, isso se
reflete. A Igreja Católica, que fez parte da formação cultural brasileira, está
sendo abalada pelas mais diversas “fés” de orientação evangélica. Bom será
lembrar que as religiões evangélicas, só no Brasil, contabilizam cerca de 42
milhões dos recenseados, que se declararam crentes ou protestantes, repartidos
entre diferentes denominações.
Valeria recordar o conceito de nacionalismo econômico:
regimes populistas geralmente assumem posturas com viés nacionalista, quando o
assunto é Economia. Discurso em defesa da união das massas: o discurso do líder
populista sempre se volta para a conciliação das classes, uma vez que seu
discurso vai para a Nação na totalidade. Existem também líderes populistas que
ressaltam um discurso em nome do “povo”, contra uma elite ou uma oligarquia
tirana, o que encontra bastante eco na nossa população.
Diria, até, criando uma relação direta e não
institucionalizada do líder com as massas: nessa característica, percebemos que
o líder populista cria sua relação com as massas de maneira direta e baseada em
seu carisma. Além disso, a construção dessa relação com o povo acontece sem a
existência de uma estrutura política que reconheça a penúria e as diferenças
socioeconômicas e culturais da maioria da população e o caso do Brasil não
seria o único.
Em 1930 e em anos posteriores os agricultores e pastores
tiveram de queimar as suas safras acumuladas, porque elas não encontravam preço
compensador nos mercados internacionais. Quem tivesse dúvidas, que procurasse
as populações miseráveis das cinco partes do mundo, esfarrapadas e esfomeadas,
enquanto se queimava café no Brasil, trigo no Canadá, lã na Argentina.
Tenho muito receio de que a História deixe de ser a Mestra
da Vida ou, como afirmava o filosofo dinamarquês Sören Kierkegaard
(1813-1855): “A vida somente pode ser compreendida olhando-se para trás,
mas somente poderá ser vivida olhando-se para a frente.”
Leitura
recomendada: Byung-Chul
Hang Psicopolítica – Psicopolítica- O
neoliberalismo e as novas tentativas de poder: Ed. Editora Âyné,- 2018.
(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco. Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE), da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES) e da Academia Recifense de Letras. Consultante Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha).
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