O selo, coronel, o
selo
Nos
Inquéritos Policiais Militares (IPM), abertos nos anos de chumbo, Jânio é
chamado ao Rio para depor em um deles. Mas o ex-presidente não vai. E diz por
que não vai:
– Só
falo no meu chão, na minha jurisdição.
O coronel
vai a São Paulo ouvi-lo. À máquina, o sargento escrevente e, ao lado de Jânio,
seu amigo Vicente Almeida. O coronel começa:
– Dr.
Jânio Quadros, em que dia e ano o senhor nasceu?
Jânio
arregala os olhos, entorta-os e volta-se para o lado:
–
Vicente, meu bem, será que ele não sabe? Não pode ser.
O
coronel não entende:
– Não
sabe o quê?
– Que
perguntas têm que ser por escrito. Está na lei, coronel. Na lei.
O
depoimento prossegue por escrito. O coronel tira um maço de cigarros, oferece.
Jânio pega-o na ponta dos dedos, passa de uma mão à outra:
–
Vicente, meu bem, que coisa. O que é isto? Que estranho, Vicente! Nunca havia
visto.
O
coronel irrita-se:
– Por
que o espanto, Dr. Jânio? É um cigarro americano Marlboro.
– Sim,
sim, meu caro coronel, sei-o, sei-o muito bem. Mas, onde está o selo? O selo,
coronel? O selo?
O IPM
acabou.
(Historinha
contada por Jô Soares).
Fonte: Gaudêncio Torquato (GT Marketing Comunicação).
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