Meraldo Zisman (*)
Médico-Psicoterapeuta
Alcancei a idade de 87 anos. De
que valeria alcançar esta idade, se toda sabedoria do Mundo fosse uma tolice?
Atingi o estágio da vida em que posso me dar ao luxo de dizer o que penso, sem
temer pelo que possa acontecer com a minha biografia.
Começo dizendo: repudio a condição
do velho que somente se faz estimável pela sua longevidade. Poucas pessoas
sabem ser velhas. Não devemos levar as nossas falhas juvenis para a velhice, a
velhice traz com ela seus próprios defeitos, Os velhos têm pouca memória, mas
em troca adquiriram bom senso e prudências aprendidas ao longo da vida.
Aos jovens dou um conselho
(apesar de dizerem por aí que conselho de velho é como o sol de inverno, aclara
sem esquentar):
“Torna-te velho
cedo, se quiser ser velho por muito tempo (Cícero [106 – 49 a.C.] Da velhice,
X.)”.
Irrito-me quando um jovem,
pensando ser “politicamente correto”, começa a me tratar com muitos cuidados.
Por favor, deixe-me fazer o que entendo: cometer imprudências, desobedecer,
brincar, falar sem censura e outras coisas mais. Desde que não me torne em um
velho ridículo; difícil, pois já entendi também o meu lugar social. Além disso,
velho que não tem juízo nunca o teve.
Permitam-me falar desta vez,
mesmo sem autorização da maioria do meu grupo etário, aos que se julgam jovens
e tudo saber: liberte-nos de vossas fatigantes e asfixiantes bondades. Esses
seus cuidados são temores que machucam. Vocês precisam entender que não somos
velhos enquanto buscamos viver como todo mundo. Nós podemos pegar coisas
pesadas, sim, podemos raciocinar corretamente, sim. Não fossem as lembranças da
mocidade, os velhos não se ressentiriam da velhice.
O nosso mal-estar reside em não
poder fazer mais o que fazíamos outrora. E vocês se esquecem de que idosos
sadios são criaturas tão perfeitas quanto os moços saudáveis. E
lembrem-se todos: os velhos morrem quando não são mais amados.
Procure-nos. Desejamos conversar
com todos vocês de todas as idades. Pois, já fomos jovens e também pensávamos
como vocês — de tudo saber.
Vocês jovens podem ser muito espertos
e rápidos nesses tempos da computação, mas não têm nossa experiência. Temos
muito para lhes ensinar. Se a velhice é uma segunda infância é prudente saber
que A criança é o pai do Homem.
Estou às ordens. Basta
procurar-me. Velho sabido espera a visita dos jovens que nunca vão procurar-me,
primeiro. Não obstante, confesso.
Mas que saudades das horas loucas
da mocidade! Mesmo sem a proteção de habeas “corpus”.
(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco. Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE), da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES) e da Academia Recifense de Letras. Consultante Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha).
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