Por Rosemberg
Cariry (*)
Tive
a honra de visitar o livreiro Gabriel José da Costa, recentemente.
Nos seus 90 anos de idade, ali estava ele, em boa forma e vigorosa prosa,
recebendo correspondências e embalando livros de várias partes do mundo, para
enviá-los, à sua custa, a bibliotecas públicas.
A
história de Gabriel é feita de lutas humanitárias e amor aos livros. Ainda
jovem, organizava pequenas bibliotecas e creches, em comunidades rurais e
na periferia pobre de Recife (década de 1950/60), como
militante de esquerda. Visitou e estudou em outros países (o pai era dono de
navios mercantes).
Por
conta das perseguições políticas, no tempo da ditadura militar, que
apreendeu a sua biblioteca de mais de 30 mil volumes, Gabriel deixou Pernambuco
e chegou a Fortaleza, onde abriu a sua "Livraria Gabriel". Embora
pequena, foi, pouco a pouco, sendo o ponto de encontro de escritores e
intelectuais.
Os
livros, difíceis de se conseguir no mercado, chegavam por encomendas diretas de
Gabriel, por intermédio de editoras de vários países da Europa, América Latina
e África, com imensos riscos para a sua segurança. Era assim
que tínhamos acesso a muitas artes e pensares que fervilhavam no mundo.
A
Livraria Gabriel, também editora, ajudou na publicação de livros, jornais e
revistas, como Nação Cariri, animando alguns movimentos literários e
sociais do Ceará, entre a década de 1970 e os anos 1980, quando o país vivia o
processo de redemocratização e esperançava maior justiça social. Acredito mesmo
que Gabriel gastou boa parte da fortuna que herdou do seu pai distribuindo
livros e ajudando escritores e artistas.
Depois,
a Unifor o recebeu com a sua livraria, e ali ele continuou sendo um mecenas,
querido dos estudantes e, também, um grande protetor dos gatos. Gabriel virou
mesmo uma referência naquele campus, de onde se afastou por conta da covid
19. Se a história da vida de Gabriel, com suas viagens e aventuras, amores
e lutas, dá um bom filme ou romance, registre-se que ele também tem as suas
próprias incursões literárias, reunidas pelo filho, Gustavo Costa, no livro
"Escritos", em e-book disponível na Amazon. Para a minha
geração, que com ele tanto conviveu, ele continua sendo uma pessoa admirável.
(*) Cineasta.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 1/06/22. Opinião, p.18.
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