quinta-feira, 21 de julho de 2022

AGEÍSMO (NOVO PRECONCEITO)

Meraldo Zisman (*)

Médico-Psicoterapeuta

Ageísmo ou preconceito de idade é mais um ‘item’ no cardápio das preocupações atuais. Embora, na maioria das vezes, o ageísmo seja usado para descrever atitudes negativas de pessoas idosas, também pode ser empregado para indicar um preconceito distinto contra qualquer das faixas etárias das pessoas. É palavra que, na língua inglesa, é mais intuitiva por derivar de “age” (idade).

Do ponto de vista demográfico, a Organização Mundial da Saúde (OMS), afirma que alguns anos o Brasil será o sexto país com maior número de pessoas sexagenárias. Contudo, enquanto a população idosa aumenta, os investimentos sociais para essa população estão estagnados, como para os demais grupos etários. Vale lembrar:

A discriminação contra o idoso é crime e possui punição. Conforme o artigo 96, do Estatuto do Idoso, estabelecido pela lei n.º 10.741, de 1.º de outubro de 2003, a discriminação mediante a idade, com atos de humilhação, desdém, menosprezo, intimidação, ou impedimento e dificultação do acesso a operações bancárias, meio de transporte, entre outras coisas, constitui-se como crime com pena de reclusão de 6 meses a 1 ano e multa.

Enquanto viver mais é um reflexo dos avanços alcançados no campo médico-social-econômico, resultantes do nosso sucesso no combate a doenças mortais da infância, mortalidade materna e, mais recentemente, mortalidade em idades mais avançadas. Por vezes se esquece que vida mais longa é um recurso incrivelmente valioso. Por conseguinte, devemos repensar não só o que é a velhice, mas também como poderíamos viver – o todo – de nossa vida.  Dada minha formação de psicoterapeuta e antigo pediatra, creio que a prática do ageísmo prejudica a saúde pública.

Atitudes negativas sobre a idade podem começar a se formar entre crianças a partir da idade de seis anos. Esses costumes podem ser gerados e reforçados de várias maneiras, incluindo a propaganda da indústria da beleza para o uso de produtos “antienvelhecimento”. As atitudes ageísticas prejudicam as pessoas de qualquer idade na qual esteja. Ademais, levam à discriminação direta baseada na idade, que pode promover a exclusão social, impactar a saúde mental e afetar determinantes mais amplos de saúde, como o emprego. Tem mais, atitudes ageísticas também prejudicam indivíduos que, à medida que envelhecem, começam a aplicar estereótipos negativos de idade para si mesmos.

Pesquisas prévias mostraram que aqueles com atitudes mais negativas quanto ao envelhecimento vivem, em média, 7,5 anos a menos do que aqueles que reagem mais positivamente ao envelhecimento. Há agora um corpo crescente de pesquisas, evidenciando as consequências que as atitudes negativas ao envelhecimento têm sobre os desfechos de saúde individuais, como perda de memória, função física e capacidade de se recuperar de doenças. Por isso, parece caber uma campanha de saúde pública e intervenções políticas destinadas a desconstruir os condutores psicossociais do ageísmo.

Rememoro:

A ONU estima que o número de pessoas com 60 anos ou mais vai dobrar até 2050. Os atuais 962 milhões de idosos serão 2,1 bilhões até lá. A forma como serão tratados dirá muito sobre a sociedade em que vivemos. Pessoalmente devo dizer que o velho em seu espécime, é decerto uma criatura tão perfeita como um moço na sua. Do que valeria a pena chegar a 80 ou mais anos de idade, se toda a sabedoria do mundo fosse uma asneira? No Brasil o aumento na expectativa de vida é hoje de 72,78 anos. Essa média não se irá estabilizar, pois no ano de 2050 a expectativa de vida subirá para 81,29 anos segundo a mesma organização. Muito cuidado para não aumentar este dissimulado preconceito. Já bastam os raciais...

(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco. Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE), da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES) e da Academia Recifense de Letras. Consultante Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha).

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