Meraldo Zisman (*)
Médico-Psicoterapeuta
Ageísmo ou preconceito de idade é
mais um ‘item’ no cardápio das preocupações atuais. Embora, na maioria das
vezes, o ageísmo seja usado para descrever atitudes negativas de pessoas
idosas, também pode ser empregado para indicar um preconceito distinto contra
qualquer das faixas etárias das pessoas. É palavra que, na língua inglesa, é
mais intuitiva por derivar de “age” (idade).
Do ponto de vista demográfico, a
Organização Mundial da Saúde (OMS), afirma que alguns anos o Brasil será o
sexto país com maior número de pessoas sexagenárias. Contudo, enquanto a
população idosa aumenta, os investimentos sociais para essa população estão
estagnados, como para os demais grupos etários. Vale lembrar:
A discriminação contra o idoso é crime e possui
punição. Conforme o artigo 96, do Estatuto do Idoso, estabelecido pela lei n.º
10.741, de 1.º de outubro de 2003, a discriminação mediante a idade, com atos
de humilhação, desdém, menosprezo, intimidação, ou impedimento e dificultação
do acesso a operações bancárias, meio de transporte, entre outras coisas,
constitui-se como crime com pena de reclusão de 6 meses a 1 ano e multa.
Enquanto viver mais é um reflexo
dos avanços alcançados no campo médico-social-econômico, resultantes do
nosso sucesso no combate a doenças mortais da infância, mortalidade materna e,
mais recentemente, mortalidade em idades mais avançadas. Por vezes se esquece
que vida mais longa é um recurso incrivelmente valioso. Por conseguinte,
devemos repensar não só o que é a velhice, mas também como poderíamos viver – o
todo – de nossa vida. Dada minha formação de psicoterapeuta e antigo
pediatra, creio que a prática do ageísmo prejudica a saúde pública.
Atitudes negativas sobre a idade
podem começar a se formar entre crianças a partir da idade de seis anos. Esses
costumes podem ser gerados e reforçados de várias maneiras, incluindo a
propaganda da indústria da beleza para o uso de produtos “antienvelhecimento”.
As atitudes ageísticas prejudicam as pessoas de qualquer idade na qual esteja.
Ademais, levam à discriminação direta baseada na idade, que pode promover a
exclusão social, impactar a saúde mental e afetar determinantes mais amplos de
saúde, como o emprego. Tem mais, atitudes ageísticas também prejudicam
indivíduos que, à medida que envelhecem, começam a aplicar estereótipos
negativos de idade para si mesmos.
Pesquisas prévias mostraram
que aqueles com atitudes mais negativas quanto ao envelhecimento vivem, em
média, 7,5 anos a menos do que aqueles que reagem mais positivamente ao
envelhecimento. Há agora um corpo crescente de pesquisas, evidenciando as
consequências que as atitudes negativas ao envelhecimento têm sobre os
desfechos de saúde individuais, como perda de memória, função física e
capacidade de se recuperar de doenças. Por isso, parece caber uma campanha de
saúde pública e intervenções políticas destinadas a desconstruir os condutores
psicossociais do ageísmo.
Rememoro:
A ONU estima que o número de
pessoas com 60 anos ou mais vai dobrar até 2050. Os atuais 962 milhões de
idosos serão 2,1 bilhões até lá. A forma como serão tratados dirá muito sobre a
sociedade em que vivemos. Pessoalmente devo dizer que o velho em seu espécime,
é decerto uma criatura tão perfeita como um moço na sua. Do que valeria a pena
chegar a 80 ou mais anos de idade, se toda a sabedoria do mundo fosse uma
asneira? No Brasil o aumento na expectativa de vida é hoje de 72,78 anos. Essa
média não se irá estabilizar, pois no ano de 2050 a expectativa de vida subirá
para 81,29 anos segundo a mesma organização. Muito cuidado para não aumentar
este dissimulado preconceito. Já bastam os raciais...
(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco. Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE), da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES) e da Academia Recifense de Letras. Consultante Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha).
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