Por Pe. Eugênio Pacelli SJ (*)
Fé é acreditar que uma coisa é verdade e agir de acordo com essa
crença. A Bíblia diz que fé é a certeza daquilo que esperamos e a prova das
coisas que não vemos (Hebreus 11:1). Portanto, todo mundo tem fé em alguma
coisa, mesmo negando que a tem. Neste sentido, o Papa Bento afirmava:
em cada crente há sempre um ateu adormecido, como em cada ateu há sempre um
crente adormecido.
Durante muito tempo, o Ocidente viveu numa sociedade crente. A
fé era evidência social, de modo que não ter fé tornava a pessoa excluída,
estigmatizada e até perseguida. Havia, certamente, as consequências da
imposição da fé, contudo era mais fácil e cômodo seguir o rebanho dos crentes e
praticar a fé coletivamente.
Atualmente, existe a liberdade religiosa, graças a Deus. A
fé e a religião estão constantemente submetidas às críticas por parte da
ciência e opinião pública. Há pesquisas que apontam a queda vertiginosa da
religiosidade. As pessoas são autônomas, o individualismo é super valorizado,
assim como a vida terrena, em detrimento da vida eterna.
A fé está frequentemente confrontada com dúvidas. Isso é bom.
Uma fé que não se questiona não é uma fé madura. Questões como: existe vida
eterna? A ciência precisa do espírito para entender o homem? Onde
está Deus em um mundo tão ferido e injusto? Por que o mal existe se
Deus permite tudo? Por que Deus não intervém no sofrimento? São feitas com
frequência para mim. No sofrimento e na dor todos se perguntam pelo
seu Criador. A eterna dúvida ou o abismo perante o silêncio de Deus é um
desafio enorme para os crentes, que veem que outros parecem viver de modo
estupendo sem necessidade de referir-se a nenhuma religião ou divindade.
Deus conhece o sofrimento. Ele se compadece porque viveu na pele
as maiores dores. Ele é solidário aos nossos sofrimentos e angústias.
O livre arbítrio é uma realidade, também. Assumimos as consequências
de tudo o que fazemos e Deus, mesmo não concordando com nossas escolhas e
decisões, respeita, ampara, acolhe.
Ter fé é deparar-se constantemente com essas questões. Temos que
aprender a manter a fé um pouco contra a corrente. A situação não é fácil. É
necessário aproveitar as vantagens para ser tocado pela fé, muitas vezes
infantilizada, acomodada, estática, em uma igreja com fortes dogmas e
que corre o risco de transformar-se em um museu, totalmente obsoleto.
Deus não é necessidade, mas um luxo, segundo o
teólogo Edward Schillebeeckx.
(*) Sacerdote jesuíta e
mestre em Teologia. Diretor do Seminário Apostólico de Baturité.
Fonte: O Povo, de 2/07/2022. Opinião. p.18.
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