Por Fernando José
Pires de Sousa (*)
Assiste-se
a esse processo por meio do desmonte da cadeia que sustenta a profissão, que
lhe grega valor, que lhe confere importância. Por vários ângulos: descaso
com a ciência; deficiências na infraestrutura e manutenção; problemas de
gestão; redução de direitos e de remuneração; depreciação da mídia junto à
opinião pública. Ao meu entender, seu ataque se dá por três pilares que se
retroalimentam. Por meio da proposta de reforma administrativa e precarização
do trabalho; da propalada racionalização dos gastos e falta de recursos; da
apologia à eficiência do mercado na oferta de bens e serviços à sociedade.
A
pandemia e o atual conflito bélico têm revelado que a seguridade social reside
no valor atribuído à ciência, quando comprometida eticamente com a preservação
da vida e da paz.
Até
porque, na geopolítica, sob o comando do capital, o que está em jogo é a
própria segurança dos povos. Investimento em pesquisa e desenvolvimento (famoso
P&D) nunca foi tão elevado nos países, inclusive naqueles em
desenvolvimento, tanto nas ciências exatas quanto nas humanas.
No
Brasil, a relação causa-efeito desta matriz de desmonte é visível
por seus resultados na produção da ciência pura e aplicada e pela reduzida
participação dos jovens na universidade.
Ora,
sabe-se que, além do ensino, a pesquisa e a extensão são praticamente
atividades exclusivas das universidades públicas, sem falar na formação do
docente, por meio de cursos de doutorado e pós-doutorado. Para os cursos
privados, tudo isso é considerado custo e não investimento, portanto deixam a
cargo do Estado, pois o que importa são os números de pagantes (inclusive,
graças a bolsas do governo-Programa FIES) e de diplomas a conceder. O professor é
mal pago, explorado, e sem "direito" a reivindicações.
Afinal, deve-se minimizar o custo professor-aluno e maximizar a eficiência,
mesmo que em detrimento da eficácia.
Assim,
ao continuar a tendência de desvalorização da atividade docente da
universidade pública, não haverá mais incentivo para se exercer esta profissão,
o que já vem ocorrendo.
(*) Professor da Universidade Federal do Ceará e coordenador
do Observatório de Políticas Públicas.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 3/7/22. Opinião, p.22.
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