terça-feira, 19 de julho de 2022

DESCASO COM O PROFESSOR UNIVERSITÁRIO

Por Fernando José Pires de Sousa (*)

Assiste-se a esse processo por meio do desmonte da cadeia que sustenta a profissão, que lhe grega valor, que lhe confere importância. Por vários ângulos: descaso com a ciência; deficiências na infraestrutura e manutenção; problemas de gestão; redução de direitos e de remuneração; depreciação da mídia junto à opinião pública. Ao meu entender, seu ataque se dá por três pilares que se retroalimentam. Por meio da proposta de reforma administrativa e precarização do trabalho; da propalada racionalização dos gastos e falta de recursos; da apologia à eficiência do mercado na oferta de bens e serviços à sociedade.

A pandemia e o atual conflito bélico têm revelado que a seguridade social reside no valor atribuído à ciência, quando comprometida eticamente com a preservação da vida e da paz.

Até porque, na geopolítica, sob o comando do capital, o que está em jogo é a própria segurança dos povos. Investimento em pesquisa e desenvolvimento (famoso P&D) nunca foi tão elevado nos países, inclusive naqueles em desenvolvimento, tanto nas ciências exatas quanto nas humanas.

No Brasil, a relação causa-efeito desta matriz de desmonte é visível por seus resultados na produção da ciência pura e aplicada e pela reduzida participação dos jovens na universidade.

Ora, sabe-se que, além do ensino, a pesquisa e a extensão são praticamente atividades exclusivas das universidades públicas, sem falar na formação do docente, por meio de cursos de doutorado e pós-doutorado. Para os cursos privados, tudo isso é considerado custo e não investimento, portanto deixam a cargo do Estado, pois o que importa são os números de pagantes (inclusive, graças a bolsas do governo-Programa FIES) e de diplomas a conceder. O professor é mal pago, explorado, e sem "direito" a reivindicações. Afinal, deve-se minimizar o custo professor-aluno e maximizar a eficiência, mesmo que em detrimento da eficácia.

Assim, ao continuar a tendência de desvalorização da atividade docente da universidade pública, não haverá mais incentivo para se exercer esta profissão, o que já vem ocorrendo.

(*) Professor da Universidade Federal do Ceará e coordenador do Observatório de Políticas Públicas.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 3/7/22. Opinião, p.22.

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