Meraldo Zisman (*)
Médico-Psicoterapeuta
Caçula
e filho único masculino do casal John Frederick Winnicott e Elizabeth Martha
Woods nascido em 7 de abril de 1896, recebeu o nome de Donald, que significa
poderoso, vigoroso. Winnicott pai dedicava tanto tempo aos negócios que parece
ter passado muito poucas horas em casa, deixando seu filho rodeado por esse
verdadeiro exército de mulheres: mãe, irmãs, tias, babá, governantas,
cozinheira, copeiras e as diversas parentes. O menino Donald sentia-se tão
confortável entre as mulheres que passava horas a fio na cozinha. Elizabeth
Winnicott costumava reclamar que o jovem Donald desperdiçava muito tempo com a
cozinheira. “Referia-se às mulheres parentas e serventes como suas múltiplas
mães”.
Em
particular, as empregadas exerceram um papel vital no desenvolvimento de Donald
Winnicott. “Anos mais tarde, ele recomendaria a alguns de seus pacientes que
passassem mais tempo no andar de baixo”, com a equipe doméstica, como parte do
tratamento. Presumivelmente, ele sabia que os empregados muitas vezes têm mais
tempo e sensibilidade para com crianças que os pais biológicos. Era menino
totalmente envolvido por mães e virtualmente privado de um pai. Parece ter
marcado de forma indelével o desenvolvimento psicológico de Winnicott, nele
gerando uma forte identificação feminina. Sentia-se protegido e seguro, e essa
estabilidade emocional propiciou-lhe uma fundação solida para uma vida adulta
firme, produtiva e criativa. A infância de Winnicott estimulou nele um grande
fascínio pelo mundo interno feminino - interesse que acabou se tornando o
trabalho ao qual dedicaria a sua vida. Como profissional, passou mais de
quarenta anos explorando e pesquisando a essência da maternidade e a relação
entre a criança e a mãe. De fato, de um modo ou de outro o jovem Donald
Winnicott estava sempre se confrontando com a natureza feminina.
Apesar
de que Winnicott tenha desenvolvido um senso de masculinidade relativamente
firme, falava com uma voz aguda e levemente estridente. Detestava o som de sua
própria voz - o legado de uma infância repleta de um número excessivo de
mulheres. Em seu livro Clinica Notes on Disorders of Childhood, Winnicott
(1931a, p. 119) ressalta que "Às vezes, um menino na puberdade não
consegue utilizar o novo poder de sua fala masculina, falando em falsete ou imitando,
inconscientemente, a voz de uma menina ou mulher que conhece".
A
teoria psicanalítica clássica concentrou-se sempre na psicanalítica clássica
concentrou-se sempre na posição da criança com relação a ambos os pais. O drama
de Édipo da teoria freudiana requer três participantes: mãe, pai e filho.
Winnicott, no entanto, escreveu muito pouco sobre a figura paterna; a maior
parte de seu trabalho é centrada apenas na mãe e no bebê. Sem dúvida, a ênfase
que ele dedicou à figura materna - sua contribuição vital para a pesquisa
psicanalítica - derivou dos fortes laços entre Winnicott e as mulheres que
cuidavam dele. Escreve sobre mães e bebês com tamanha intimidade que as, pessoa
s imaginam que ele pessoalmente amamentou várias crianças. (fragmento biográfico
baseado no Capítulo do livro “D. W. Winnicott - Um Retrato Biográfico”, de
Brett).
(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco. Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE), da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES) e da Academia Recifense de Letras. Consultante Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha).
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