Por Liduína Rocha (*)
Depois de termos chegado em 2019, com muito esforço
e políticas públicas consistentes, ao menor número de mortes
maternas dos últimos anos, 57,3 mortes para cada 100 mil nascimentos, o
Brasil, com reflexos no Ceará, retrocedeu dramaticamente nesse cenário em 2020
e em 2021, ano em que chegamos a 121,6 mortes maternas, em média, para cada 100
mil nascimentos.
As escolhas erradas do Governo Federal nas políticas
públicas, com inúmeras medidas de boicote ao que deveria ter sido feito
para controle da pandemia e redução do número de casos, internações e
mortes por Covid-19, foi decisivo para o aumento nas mortes maternas.
Diante desse cenário tão desolador e neste momento
tão grave, temos extrema preocupação com a decisão, em Fortaleza, de fechamento
de uma das maternidades que tem um dos maiores fluxos de movimento, de
procedimentos, de complexidade de assistência e que está situada em um
território de muito baixo IDH e de grande vulnerabilidade social. Falo
aqui do fechamento, para posterior reforma ou mudança de estrutura, do Hospital
Gonzaguinha de Messejana.
É compreensível que tenhamos hoje no hospital uma
estrutura física que precisa ser reparada. Mas é preciso pensar adequadamente
essa reforma. O Gonzaguinha de Messejana teve média mensal de
atendimentos em 2019 de 2.858 consultas ambulatoriais, 1723 de emergência, 322
partos, 219 cirurgias, 378 imagens, 16.658 exames.
É uma maternidade que oferece exames laboratoriais e
de imagem com acesso rápido, o que é raro e muito importante para alguns casos
de maior complexidade obstétrica, assim como dispõe de um corpo
clínico preparado para tais casos, com interdisciplinaridade e com muitas
residências, para várias especialidades. Também é referência na assistência a
mulheres vítimas de violência.
Trata-se, principalmente, de uma maternidade
inserida num território que a leva a atender a um dos princípios mais
importantes do SUS: o da equidade. A atual proposta não é somente sobre
tirar do local o Gonzaguinha de Messejana, e sim sobre tirar o acesso adequado
para as pessoas que mais precisam.
Diante de tudo isso, compreendemos a importância de
a maternidade vir a ser reformada. Mas é preciso que isso seja feito de forma
gradativa, ordenada, cuidadosa. Que isso seja discutido com o corpo funcional,
os estudantes e principalmente com a comunidade. E que se pense em
uma solução coletiva a partir desse diálogo e dessa construção.
(*) Médica obstetra.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 17/06/2022. Opinião. p.19.
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