sexta-feira, 5 de agosto de 2022

Crônica: “Falta um empurrão pruma briga” ... e outro causo

“Falta um empurrão pruma briga”

Dona Tereza, já na maca, a caminho do centro cirúrgico. Será submetida a uma artroplastia do joelho direito. Prótese total. Objetivo: estabilizar a articulação daquela quengada região da perna. De logo a enfermeira mira a boca da paciente e, gentil, pede "as próteses, por favor".

- É procedimento de rotina numa operação.

- Pois pergunte ao traumatologista! Ele que vai botar uma no meu joelho.

A moça referia-se à prótese dentária da septuagenária. Sem ela, no dizer da vaidosa senhora, "me sinto nua. Prefiro morrer a me verem banguela".

Há pouco escrafunchando o ouvido, Teresa, ao cruzar a porta do centro cirúrgico, atende ao pedido da enfermeira e põe algo na mão de Malu, filha e acompanhante.

- Tome! Segure firme! Só abra essa mão quando terminar tudo.

E a operação é um sucesso. Ao deixar o centro cirúrgico, a senhora, grogue da anestesia, pano escondendo a boca supostamente murcha, indaga da dentadura. Ninguém sabe, ninguém viu. Faz finca-pé, não sai pra enfermaria com a bocarra desprotegida.

- Quero meus dentes! Chamem minha filha aqui!

Malu chega vexada - mãos abanando. Não lembra onde deixou a dentadura que mãezinha entregou na mão. Recorda apenas que esteve no banheiro. Acha que entregou ao Júnior - irmão dela. Não, não está com ele.

No auge da afobação, Teresa berra a pleno pulmões por aqueles que lhe servem na mastigação. Nesse exato momento, espirra e... "Ploooooft!" A chapa superior salta da boca e vai bater lá acolá. "Que é isso, mãezinha?" grita Malu para uma mãe toda errada.

- Foi mal, filha. Lembrei agora do migué que dei: botei foi uma tampa da caneta na tua mão, quando eu ia entrando pra ser operada...

Olimpiano sabacu

Jair Morais, Poeta dos Cachorros, o que apanhou de uma estátua. Na Praça do Ferreira, em frente ao São Luiz, um jovem fantasiado de estátua (Atena, nome grego de Minerva, deusa que açoitou o gigante Encélades) chama a atenção pela capacidade de passar horas e horas estático, que nem toicim em saco de farinha. Move nem a palha do pensamento.

Aos olhares transeuntes, o artista é pedra que brilha na cor e na categoria de assim sobreviver. O homem-estátua fica em pé num tablado (mesinha de metro e meio de altura), agigantando-se ante o espectador miúdo, lá embaixo, que paga pelo espetáculo mudo com moeda pouca. Pois bem.

Jair estava desde cedo sentado no banco da Praça, mirando a escultura humana que não bulia absolutamente um pelo da venta. Nosso poeta da Vila União tinha uma marmota em mente, arengueiro que é. Tudo certo pra fazer uma gaiatice. Levantou-se, pois, chegou por trás do jovem e sapecou-lhe sabacu. E fez carreira.

O rapaz (até então uma "estauta" humana inamovível) pulou da mesinha com tudo e correu no encalço do poeta. Foi chulipa e cascudo no desafeto até dizer chega. Acima de tudo um fuleiro, Jair foi pra casa cheio de roncha, "pripinado" de mãozada, mas feliz por ter matado o verme: quebrar o gelo de Minerva com aquele sabacu. Ou, como diz:

- Olimpiano sabacu!

Fonte: O POVO, de 29/07/2022. Coluna “Crônicas”, de Tarcísio Matos. p.2.

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