quinta-feira, 4 de agosto de 2022

O QUE NÃO ME MATA ME FORTALECE

Meraldo Zisman (*)

Médico-Psicoterapeuta

O Homem é um animal vulnerável, cujos ânimos são apenas suficientes para a conservação da própria existência. Necessita possuir ouvidos e ter olhos sempre atentos, vigilantes, para detectar animais predadores, sobretudo quando fazemos parte de sua cadeia alimentar. Existimos do medo!

Conceba também, leitor, a intensidade desse medo ancestral acrescido sempre pela possibilidade de nos tornarmos alimento de predadores gigantes e visíveis do tipo tigre de dentes de sabre, dinossauros... Imagine-se ademais diante de inimigos invisíveis: vírus, bactéria e parasitas. Tudo isso agudiza nossos temores da finitude.

Perdemos o amparo das religiões e as tais de tecnociências são tão mutantes quanto "as nuvens do céu".

Conceba ainda o sofrimento causado pelo terror que nos foi imposto com a desculpa da atual pandemia viral, a primeira historicamente a ser informatizada e controlada por grandes empresas como a Apple, o Google, o Facebook, a Amazon- et cetera – e fomentada pelos conglomerados farmacêuticos, tão ou mais poderosos do que as indústrias bélicas.

Imaginem a confusão amedrontadora despertada nas mentes pelo ancestral sofrimento da espécie humana, confusão essa que tem como resultante o incremento da “angústia-vital”, também conhecida como angústia neurótica, considerada uma das fobias das mais incapacitantes geradas por agentes patógenos invisíveis.

Temor, medo, insegurança, desequilíbrio, tornam-se asfixiantes, refletindo-se no corpo de alguma forma: dor de cabeça, dificuldade para respirar, falta de equilíbrio, vontade de vomitar ou sudorese, entre outros e, se houver propensão às doenças ditas mentais, as tornarão exacerbadas. Para usar a terminologia atual, viralizam ao mesmo tempo e mais do que o próprio vírus. O pior de tudo é que a ‘angústia vital viralizada’, modifica a visão que temos do Mundo e nos leva a um pessimismo doentio.

Faço aqui um apelo esperançoso. A história nos ensina que a atual pandemia, apesar de lamentável, dado o número de vidas ceifadas, há de nos servir – seja como for - de aprendizado.

Lembro aos seus sobreviventes e até agora me incluo neles, as palavras do filósofo Friedrich Nietzsche (1844-1910):

“O que não me mata me fortalece”.

Aprendi que a espécie humana é uma só, não existindo um vale francês ou uma montanha germânica e que vírus nenhum necessita de mostrar passaporte ou visa para entrar em lugar nenhum.

Fronteiras não passam de abstrações humanas, assim como as tais de ideologias.

(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco. Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE), da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES) e da Academia Recifense de Letras. Consultante Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha).

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