Meraldo Zisman (*)
Médico-Psicoterapeuta
O medo de falar em público é um dos exemplos mais
comuns de fobia e é muito mais frequente do que se Imagina. Não é somente você
que fica ansioso quando tem de falar em público. Saiba que mais de 75% das
pessoas sofrem dessa categoria de ansiedade. O nome dessa ansiedade,
usado por nós, profissionais, é glossofobia.
Do
grego: glōssa,
“língua” + fobo,”
medo”. Muitas pessoas possuem apenas essa fobia, enquanto outras podem também
ter sociofobia.
O medo de palco pode ser um sintoma de glossofobia.
Esta é uma das queixas mais frequentes que estou acostumado a ouvir dos jovens
antes de uma apresentação oral, seja aonde for, num auditório com a classe
escolar ou apresentações das mais diversas.
Prefiro denominar esse medo de “mutismo
seletivo”, definido pelo Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos de
Saúde Mental, 5.ª Edição (DSM-5) da Academia Americana de Psiquiatria como uma
perturbação criada pela ansiedade, vez que a maioria das crianças com “mutismo
seletivo” está ansiosa, inquieta, preocupada, nervosa. Estão
inseguras. E isso é o gatilho para não falar diante de outros; se forem com
pessoas estranhas é muito pior.
Isso
acontece em qualquer das etapas da vida. Sem desejar complicar, o mutismo
seletivo pode ser acompanhado por outros transtornos de ansiedade, como
perturbação por inquietação de separação, nervosismo de ansiedade social
(anteriormente chamado fobia social), agorafobia ou cenofobia (medo mórbido de
se achar sozinho em grandes espaços abertos ou de atravessar lugares públicos)
e transtorno de pânico. A minha experiência mostra que nesse tipo de ansiedade
as pessoas podem parecer aos outros que não estão ansiosas, especialmente
devido a seu silêncio, principalmente com estranhos.
Diferentemente das psicoses, as pessoas conseguem
reconhecer seus medos como excessivos e irracionais. Não poucos desses medos
estão ligados a certos aspectos como o nervosismo, a timidez, a insegurança ou
até mesmo a algum trauma sofrido na infância ou na adolescência. Devemos nos
precaver, pois nem todo medo de falar em público é glossofobia, sentir um pouco
de ansiedade e nervosismo é normal. Afinal, ficar em evidência, sujeito a
críticas e julgamentos, gera certa ansiedade sobre como os outros vão reagir.
Frente
a um futuro incerto e perigoso, um indivíduo pode se sentir impotente e
indefeso, levando-o ao anseio e à sensação de intranquilidade, medo ou receio.
Dizem os autores clássicos que a ansiedade passou a ser soberana na nossa era.
Tem-se criado mais sofrimento do que qualquer coisa nesta era das maravilhas
eletrônicas que alguns denominam a Era da Ansiedade.
O termo medo possuiu uma vasta sinonímia: receio, pavor, susto,
temor, terror, apreensão e todos eles conseguem promover a ansiedade de
apresentação.
A angústia e a ansiedade não estão desconectadas da
vida social, pois são sensações momentâneas, com certas diferenças e fazem
parte do cotidiano do ser humano, atingindo ricos e pobres, jovens, idosos e
crianças, fazendo da ansiedade a mais democrática das emoções.
No
entanto, medo e ansiedade são sentimentos comuns, normais, que servem para nos
proteger. Ambos são muito parecidos, primos mesmo. O medo geralmente se refere
a um objeto ou a uma situação muito definida. Temos medo do perigo imediato. Já
a ansiedade se caracteriza por uma sensação desagradável de tensão e apreensão.
Agora, ambos passaram a serem irmãos sintomatológicos. Com os surtos
imigratórios, tais sintomas estão cada vez mais prevalentes em crianças de
menos de 5 anos que não falam o idioma do novo país. Em lugar de aguardamos um
desenlace natural, acredito que nas escolas, desde cedo, poderemos estimular a
integração, mesmo que os pais falem outra língua ou carreguem o sotaque de
outra origem.
(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco. Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE), da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES) e da Academia Recifense de Letras. Consultante Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha).
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