segunda-feira, 1 de agosto de 2022

(RE)MODELAR A SAÚDE NA ATENÇÃO PRIMÁRIA

Por Manoelise Linhares (*)

O processo político da Atenção Primária à Saúde (APS), no Brasil, contou com a ampliação da cobertura dos serviços assistenciais e gerenciais, a partir da territorialização, com longitudinalidade dos cuidados, fortalecimento de vínculos, celeridade das notificações de doenças e agravos e planejamento de políticas públicas. A avaliação da qualidade é feita com base nos princípios do Sistema Único de Saúde (SUS), sendo incumbência da Estratégia Saúde da Família (ESF) a coordenação do cuidado e acompanhamento dos usuários na Rede de Atenção à Saúde (RAS).

Para a demanda assistencial, a ESF contou com o Núcleo de Apoio à Saúde da Família (Nasf), que deu suporte e efetividade à interdisciplinaridade dos cuidados, reduzindo hospitalizações evitáveis e custos relativos à complexidade dos serviços. Mas, com o programa Previne Brasil e o desligamento do Nasf, no atual governo federal, é preciso reorganizar os serviços para garantir a resolutividade da assistência. Isso repercute na fragilidade do SUS frente às necessidades de saúde e exige a complementaridade do setor privado, o que gera reflexões sobre óbices à continuidade do SUS.

Cabe à APS resolver cerca de 80% das demandas de saúde, garantindo integralidade e equidade nos atendimentos, sem qualquer seletividade e com quantidade de profissionais pertinentes à epidemiologia e aos aspectos sociodemográficos dos usuários. Negligenciar nesta frente pode desestabilizar o princípio da universalidade. Porém, não podemos ter ilusões quanto às políticas de saúde, pois os recursos ainda são insuficientes, ocasionando congestionamento nas solicitações e tempo de espera dos serviços. A problemática foi intensificada na pandemia de Covid19, pela necessidade de acolher toda a população.

O funcionamento da ESF, que era comunitária e promotora de saúde, tem se transformado, aos poucos, em atendimento individual, focado na crise aguda e sem a continuidade dos vínculos. Logo, é inescusável propor lutas coletivas para potencializar a gestão dos processos terapêuticos, a fim de oportunizar cuidados coletivos, efetivos e resolutivos.

(*) Enfermeira. Mestranda em Saúde Coletiva da Uece.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 10/07/2022. Opinião. p.18.

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