Por Manoelise Linhares (*)
O processo político da Atenção Primária à Saúde
(APS), no Brasil, contou com a ampliação da cobertura dos serviços
assistenciais e gerenciais, a partir da territorialização, com
longitudinalidade dos cuidados, fortalecimento de vínculos, celeridade das
notificações de doenças e agravos e planejamento de políticas
públicas. A avaliação da qualidade é feita com base nos princípios
do Sistema Único de Saúde (SUS), sendo incumbência da Estratégia Saúde da
Família (ESF) a coordenação do cuidado e acompanhamento dos usuários na Rede de
Atenção à Saúde (RAS).
Para a demanda assistencial, a ESF contou com o
Núcleo de Apoio à Saúde da Família (Nasf), que deu suporte e efetividade
à interdisciplinaridade dos cuidados, reduzindo hospitalizações
evitáveis e custos relativos à complexidade dos serviços. Mas, com o programa
Previne Brasil e o desligamento do Nasf, no atual governo federal, é preciso
reorganizar os serviços para garantir a resolutividade da assistência. Isso
repercute na fragilidade do SUS frente às necessidades de saúde e exige a complementaridade
do setor privado, o que gera reflexões sobre óbices à continuidade do SUS.
Cabe à APS resolver cerca de 80% das demandas de
saúde, garantindo integralidade e equidade nos atendimentos, sem
qualquer seletividade e com quantidade de profissionais pertinentes à
epidemiologia e aos aspectos sociodemográficos dos usuários. Negligenciar nesta
frente pode desestabilizar o princípio da universalidade. Porém, não podemos
ter ilusões quanto às políticas de saúde, pois os recursos ainda são insuficientes,
ocasionando congestionamento nas solicitações e tempo de espera dos serviços. A
problemática foi intensificada na pandemia de Covid19, pela necessidade de
acolher toda a população.
O funcionamento da ESF, que era comunitária e
promotora de saúde, tem se transformado, aos poucos, em atendimento individual,
focado na crise aguda e sem a continuidade dos vínculos. Logo, é inescusável
propor lutas coletivas para potencializar a gestão dos processos
terapêuticos, a fim de oportunizar cuidados coletivos, efetivos e resolutivos.
(*) Enfermeira. Mestranda em Saúde
Coletiva da Uece.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 10/07/2022. Opinião. p.18.
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