quarta-feira, 5 de outubro de 2022

A NECESSÁRIA E IMPROVÁVEL QUEDA NOS JUROS!

Por Lauro Chaves Neto (*)

A Autoridade Monetária vem reforçando a chance de se encerrar o ciclo de elevações na taxa básica de juros, porém o movimento de queda que traga os juros para patamares civilizados deverá ser muito lento e, provavelmente, terá início apenas em meados de 2023.

As recentes decisões nas políticas fiscal e monetária provocaram um trade off de expectativas em relação às projeções anteriores, menor inflação e maior crescimento em 2022 com o movimento inverso para 2023, maior inflação e menor crescimento. O arrocho deverá ir até que as expectativas de inflação de 2023 e 2024 voltem ao centro da meta.

Existem três questões internacionais que também possuem impacto direto na definição dos juros brasileiros. A Guerra da Ucrânia e as suas implicações sobre o preço de alimentos e energia; as indas e vindas de políticas de "Covid zero" na China com suas consequentes interrupções na produção e logística de produtos finais, peças, chips e outros insumos; e a elevada inflação americana que provoca variações na política do FED e na questão fiscal, com impactos em toda a economia mundial.

Internamente, existe a incerteza de equilíbrio das contas públicas, já em 2023, devido não só a probabilidade, como também a necessidade, de que as medidas de estímulo à demanda e de transferência de renda se tornem permanentes, o que levaria a manutenção da Selic elevada por um período mais prolongado.

Esses fatores internos e externos descritos acima são consistentes com uma política monetária mais contracionista, e consequentes juros em patamares mais elevados, por um período mais longo.

Adicione-se a perspectiva de um cenário eleitoral extremado e conturbado, onde reduzir a inflação permanecerá como a prioridade na política econômica de curto prazo em 2023, o que requer um patamar mais elevado dos juros por mais tempo.

Equacionar o fenômeno inflacionário requer, em longo prazo, um crescimento sustentado da produtividade da economia e mecanismo saudáveis de financiamento do governo, sem essas condições a economia tende a ficar sempre presa às questões de curto prazo.

(*) Consultor, professor doutor da Uece e conselheiro do Conselho Federal de Economia.

Fonte: O Povo, de 22/08/22. Opinião. p.22.

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