Por Lauro Chaves Neto (*)
A
Autoridade Monetária vem reforçando a chance de se encerrar o ciclo de elevações
na taxa básica de juros, porém o movimento de queda que traga os
juros para patamares civilizados deverá ser muito lento e, provavelmente, terá
início apenas em meados de 2023.
As
recentes decisões nas políticas fiscal e monetária provocaram
um trade off de expectativas em relação às projeções anteriores, menor inflação
e maior crescimento em 2022 com o movimento inverso para 2023, maior inflação e
menor crescimento. O arrocho deverá ir até que as expectativas de inflação de
2023 e 2024 voltem ao centro da meta.
Existem
três questões internacionais que também possuem impacto direto na definição dos
juros brasileiros. A Guerra da Ucrânia e as suas implicações
sobre o preço de alimentos e energia; as indas e vindas de políticas de
"Covid zero" na China com suas consequentes interrupções na produção
e logística de produtos finais, peças, chips e outros insumos; e a elevada
inflação americana que provoca variações na política do FED e na questão
fiscal, com impactos em toda a economia mundial.
Internamente,
existe a incerteza de equilíbrio das contas públicas, já em 2023,
devido não só a probabilidade, como também a necessidade, de que as medidas de
estímulo à demanda e de transferência de renda se tornem permanentes, o que
levaria a manutenção da Selic elevada por um período mais prolongado.
Esses
fatores internos e externos descritos acima são consistentes com uma política
monetária mais contracionista, e consequentes juros em patamares mais
elevados, por um período mais longo.
Adicione-se
a perspectiva de um cenário eleitoral extremado e conturbado,
onde reduzir a inflação permanecerá como a prioridade na política econômica de
curto prazo em 2023, o que requer um patamar mais elevado dos juros por mais
tempo.
Equacionar
o fenômeno inflacionário requer, em longo prazo, um crescimento sustentado da
produtividade da economia e mecanismo saudáveis de financiamento do
governo, sem essas condições a economia tende a ficar sempre presa às
questões de curto prazo.
(*) Consultor,
professor doutor da Uece e conselheiro do Conselho Federal de Economia.
Fonte: O Povo, de 22/08/22. Opinião. p.22.
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