Meraldo Zisman (*)
Médico-Psicoterapeuta
Quando o clima de insegurança atinge a Sociedade em sua
totalidade, a Violência transforma-se numa reação corriqueira. Estudos
demonstram que natos de uma gestação que evolui em clima de medo, agressão, desamparo
— apresentam desvios em sua personalidade. O fortalecimento dos vínculos
familiares é a única maneira de prevenir a Enfermidade da Violência.
É muito importante destacar que o desenvolvimento
educacional deverá estimular os sentimentos de compaixão, compreensão e
solidariedade; maneira essencial para criar uma cultura de não violência. Uma
das principais linhas de trabalho consiste em estabelecer “circuitos
interativos” visando ampliar o campo da reflexão, de alternativas e de condutas
cordiais entre as pessoas. Digo, sem dúvida alguma, que a cultura da “não
violência” tem início na família. Seguem-se alguns exemplos práticos:
•
Quando você arranca o brinquedo da mão do seu irmão, ele fica assustado e chora
e eu fico muito zangada com você; aí nós brigamos e você fica triste, pensando
que eu gosto mais dele do que de você.
Não seria melhor
conversar com seu filho ou filha sobre o assunto?
• Sei que você está
chateado (a) porque não vou poder sair com você, agora. Cheguei em casa muito
cansada.
Mas, em vez de ficar
triste, poderíamos combinar outra coisa?
• Fico raivoso quando
encontro sua toalha molhada em cima da cama. Diga: coloque-a no banheiro, por
favor, em vez de dizer: — Só uma idiota consegue deixar uma toalha molhada em
cima cama!
• Pô, pai, você é careta
demais mesmo, não dá para entender por que eu quero ir nessa
festa? Tente negociar uma solução mais satisfatória do tipo “Vamos
tentar chegar a um acordo sobre o horário de sair da festa”.
Senhores Pais, em vez de se
preocupar com ganhar ou perder a discussão, preocupem-se em encontrar uma
solução. No entanto, o princípio da não violência nunca deve ser usado como um
escudo para a covardia. Muitos pais batem nos filhos — não só porque não
conseguem colocar limites de modo firme, sereno e consistente, mas, sobretudo,
porque pensam que esse é um meio legítimo de impor disciplina. No entanto,
quando perguntados se acreditam que os professores ou a babá poderiam dispor
desse recurso para serem obedecidos, ficam indignados e respondem: — Claro que
não !
Portanto, se os pais pensam que educadores e empregadas
domésticas precisam usar métodos não violentos para colocar limites e estimular
o cumprimento das tarefas, por que eles próprios não conseguem fazer o mesmo?
Diversos métodos, não violentos de disciplina devem ser
considerados, tais como colocar a criança “para pensar”, privá-la
temporariamente de coisas que ela gosta ou restringir atividades como brincar
com amigos ou ver TV ou entrar na Internet.
O mais importante é saber que ninguém nasce violento. É
preciso construir a mentalidade de que a violência é inaceitável, por parte de
todos. A Violência é um comportamento “aprendido” no processo de socialização,
que está relacionado com a formação cultural do indivíduo. É essa identidade,
criada por contatos com códigos, padrões, hábitos e valores que determina
as ações na sociedade e o modo como enxergá-la.
As linhas de ação para a prevenção e o tratamento da
Violência começam em casa. Devemos nos lembrar de que o ciclo da
violência tende a passar de uma geração a outra: números expressivos dos
adultos e adolescentes violentos foram crianças vítimas de abusos de outros
adultos quando crianças…
A não-violência nunca deve ser usada como um escudo para a
covardia. É uma arma para os bravos (Mahatma Gandhi 1869 – 1948)
(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco. Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE), da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES) e da Academia Recifense de Letras. Consultante Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha).
Nenhum comentário:
Postar um comentário