Balançando o pé de fava
Tempos
áureos da Imprensa Oficial do Ceará. Lá uma falta de luz repentina - era manhã
labutativa - estanca todas as máquinas. Quede força pra continuar imprimindo?
Ambiente clareado apenas pela luz chegada de fora. Enquanto aguardava a energia
tornar, grupo de amigos, entre os quais o Agenor e o Sérgio Neto, se reúne pra
jogar conversa fora. O tema: sogra. Conversa vai, conversa vem e um dos
servidores conta que a dele, algo raro de se ouvir, era uma santa, não dava
pitaco na vida do genro e da filha. Neutralidade que lhe encantava. E orgulhoso
defendia:
-
Dona Maria é o tipo de criatura que nem fede nem cheira.
O
outro já a seguir emendava, aquele acolá aduzia e um quarto reforçava:
-
Entendo, sua sogra é do tipo nem Ford nem sai de Simca.
-
Nem obra nem desocupa a moita.
-
Nem é nem deixa de é.
-
Sei como é! Não é carne nem é peixe!
Sérgio
Neto, até então sem dar um pio, se pronuncia:
-
Se não é carne nem é peixe, é galinha!
Quase
um arranca-rabo na IOCE dos idos tempos áureos, em meio à falta de luz.
Largou o cabaré e botou uma igreja
Todos
temos a oportunidade de mudar de direção a vida que se leva. É o caso (real) de
Brigitinha. Famosa no bairro por manter de pé, por cima de pau e pedra, o
cabaré Bagaço de Cana, atuou ininterruptamente por 20 anos. A casa da luz
encarnada, bem frequentada pelo povo dali, estava na rota de estrangeiros. Na
vitrola, ouvia-se ao longe o canto gasguita de Evaldo Braga - "Sorria, meu
bem, sorria, da infelicidade que você procurou"...
E
foi desse modelim até o dia em que um pastor, pelas cercanias pregando a
Palavra, deu de cara com Brigitinha, convertendo-a à lei dos crentes. Mudança
radical operada na moça. No local onde funcionava o Bagaço de Cana era
inaugurado mais tarde um templo simples, mas aconchegante e ventilado - do lado
da sombra. O Paraíso das Anjas só não fez mais sucesso porque a chefona teve
uma recaída - fugiu com o antigo garçom, prestimoso tesoureiro da igreja - e
tudo voltou a ser como era.
Das tripas, coração
Pesquisando
no Google encontramos essa ciência: "A maioria das leguminosas, incluindo
feijão, soja, grão-de-bico, lentilha e ervilha possui oligossacarídeos, um tipo
de carboidrato de difícil digestão. Essas substâncias costumam chegar ao
intestino grosso e, ao serem fermentadas por bactérias, levam à formação de
gases". Entre essas leguminosas está também a fava, espécie Vicia faba, da
subfamília das papilionoídeas. Por que toda essa conversa mole?
Pra
contar da recente briga de Eleutério com a mulher Dudeca, quando já dormiam. O
caba véi soltou gás federal (pôdi, pôdi!), debaixo da coberta, e a mulher, sem
fôlego, inspirando aquele veneno intestinal, disparou desperta e raivosa e
desiludida da vida:
-
Isso é desumano, Eleutério!!!
-
Desculpa aí, amor! Foi mal! É por causa da fava de hoje no almoço que tu fez...
Dudeca,
passando mal com a pudriça inalada, retruca:
-
O peido é teu, não é da fava!!! Peste!!!
Fonte: O POVO, de 7/10/2022. Coluna “Crônicas”, de Tarcísio Matos. p.2.
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