Por Lígía Kerr (*)
Monkeypox
(Varíola dos macacos) é uma doença causada por um vírus similar ao da varíola humana que resulta em uma doença também semelhante à varíola humana, em
geral, menos grave.
Em fevereiro de
2022, meses antes dos primeiros casos da presente pandemia e da OMS declarar a
doença como uma emergência internacional, uma importante revista científica
alertava para a dramática mudança observada na epidemiologia da doença na África e sua ameaça em potencial. Os casos subiram de 47, entre
1970-1980, para 419 confirmados e quase 30 mil suspeitos, entre 2009 e 2019. Na
década de 70, os casos predominavam em crianças de 4 anos, em 1980 subiram para
a faixa de 10 anos e, entre 2000-2010, para adultos jovens em seus 21 anos.
A resposta a
esta pergunta já sabemos, os casos explodiram. Entre o registro do primeiro
caso em maio, no Reino Unido, e agosto, o mundo se vê perto da marca dos 45 mil
casos confirmados, e o Brasil é o terceiro país do mundo em número de casos.
Embora já se
soubesse que a vacina da varíola humana apresentava cerca de 85% de proteção
cruzada com a Monkeypox, e a chance de um vacinado ser 5,2 vezes
menor do que um não vacinado de adquirir a doença, nada foi feito para
desenvolver novas vacinas ou tratamento. Porque a indústria farmacêutica iria
investir, se a doença atingia apenas países pobres da África, onde crianças e
adultos jovens adoeciam, mesmo que a taxa de letalidade pudesse chegar a 10% em países do oeste do continente?
Fora da África,
além das formas já conhecidas de transmissão, a Monkeypox se mostrou
sexualmente transmissível, mesmo que ainda não seja oficialmente classificada
como uma IST. Os casos recentes estão ocorrendo predominantemente entre homens
que fazem sexo com homens (HSH). O aumento do número de parceiros sexuais por aplicativos, o declínio no uso de preservativos entre HSH, em
geral, e entre os que fazem profilaxia do HIV, contribuíram para o aumento de
diversas IST's e, provavelmente, da Monkeypox.
A Monkeypox
veio para explorar as vulnerabilidades da nossa vigilância, pois requer
testagem, isolamento e rastreamento de contatos. Vale ressaltar que, embora 90%
ou mais dos casos estejam entre HSH, ninguém está imune de adquirir a infecção.
Como a aids, a Monkeypox não deve ficar concentrada nesta população, como
mostram os registros de casos em mulheres e em crianças no Brasil e no exterior.
Desta forma,
nunca é demais recordar as lições deixadas pela aids, reconhecendo que esta
infeção pode ocorrer em qualquer pessoa e que o estigma e preconceito trazem
enormes prejuízos sociais e emocionais para suas vítimas e as afastam de
buscar os serviços de saúde para detecção, diagnóstico e tratamento precoces. E
mais, vacinar esta população é primordial, e não pode esperar.
(*) Médica epidemiologista e professora da
UFC. Vice-presidente da Abrasco.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 12/09/2022. Opinião. p.19.
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