Numa das visitas que eu fazia à Dona Elda (como filho e médico), mamãe
me passou às mãos um calhamaço sem dar maiores explicações. Presumi que teria
sido deixado por Marcelo, por ser frequente meu irmão recorrer a essa
intermediação materna quando queria me dar conhecimento de suas produções
literárias.
Ao examinar o conteúdo, vi que se tratava de
textos que se referiam a pessoas, coisas e assuntos do bairro Otávio Bonfim.
Eram uma preciosidade histórica em cujas páginas não se conseguia identificar a
autoria. Mas não parecia ser algo que Marcelo houvesse escrito.
Lembrei-me então do memorialista Vicente Moraes, a
quem conhecia apenas de nome, o consagrado autor de "Anos Dourados em
Otávio Bonfim: À memória de Frei Teodoro". O local e o período das
histórias relatadas coincidiam, e os textos pareciam ser os originais de um
livro na linha do anterior. Guardei o calhamaço numa das prateleiras de minha
biblioteca. Se não localizasse o autor, talvez servisse como fonte de consulta
para as notas que eu publico semanalmente em "Linha do Tempo".
Anos depois, fui chamado para uma reunião no
apartamento de tio Edmar. Ele estava planejando um encontro de congraçamento
entre pessoas que, nas décadas de quarenta e seguintes, residiram em Otávio
Bonfim. Na noite da reunião estiveram presentes, além do tio anfitrião,
Marcelo, Vicente Moraes e eu.
Foi quando ouvi Vicente lamentar-se do extravio
dos originais da 2.ª edição de seu "Anos Dourados em Otávio Bonfim".
Para complicar, o computador utilizado na digitação dos originais, fora dado de
presente ao filho de sua empregada doméstica, e o rapaz formatara o computador.
E, por algum esquecimento, Vicente não havia feito back-up dos arquivos nem
guardado cópias.
Eram textos que não constavam da 1.ª edição - anos
desperdiçados do trabalho de um memorialista! Vicente já dava a nova edição
como irremediavelmente perdida.
Ele cobrava de Edmar, que cobrava de mamãe, que
cobrava de Marcelo, que não sabia de nada.
Entrei na conversa. O calhamaço de autor anônimo
que eu guardava em casa talvez fosse o que Vicente tanto procurava.
E era. Após receber os originais extraviados,
Vicente digitou novamente o livro e deu entrada na Editora Iuris para a
impressão.
O lançamento da 2.ª edição (revista e ampliada) de
"Anos Dourados em Otávio Bonfim (À memória de Frei Teodoro)"
aconteceu no Salão de Santo Antônio, ao lado da igreja da Paróquia N. Sra. das
Dores, em 25/08/2017.
Marcelo fez o prefácio e eu escrevi a contracapa.
Um espaço generoso do conteúdo desse livro foi
dedicado a nosso pai, Luiz Carlos da Silva (Seu Silva), que o autor chama de
"enciclopédia ambulante de Otávio Bonfim".
P.S.: Vicente se valeu dos préstimos de Edmar para
fazer chegar os originais a Marcelo, que deveria escrever o prefácio.
Acostumada a receber os escritos de Marcelo (doador universal) para entregá-los
a mim (receptor universal), mamãe seguiu a rotina. E, com essa distração,
deixou Marcelo no vácuo.
Referências:
MORAES, Vicente de Paula Falcão. Anos
dourados em Otávio Bonfim: à memória de Frei Teodoro / 2.ª edição revista e
ampliada. Fortaleza: Iuris, 2017. 320p.
http://gurgel-carlos.blogspot.com/2015/09/dos-anos-dourados-aos-anos-iluminados.html
http://gurgel-carlos.blogspot.com/2017/08/lancamento-do-livro-anos-dourados-em.html
http://gurgel-carlos.blogspot.com/2017/09/anos-dourados-em-otavio-bonfim-quarta.html
http://gurgel-carlos.blogspot.com/2018/09/seu-silva-o-mestre-educador-do-bairro.html
Postado no Blog Linha do Tempo de Paulo Gurgel
em 11/10/2022.
http://gurgel-carlos.blogspot.com/2022/10/quem-salva-um-livro.html
Tenho em deífica conta de que o título dessa crônica é uma aplicação (abreviada) de "Quem salva uma vida, salva a humanidade", do Talmud. Estou certo?
ResponderExcluirTenho em deífica conta de que o título dessa crônica é uma aplicação (abreviada) de: "Quem salva uma vida, salva a humanidade", do Talmud. Estou certo?
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