quinta-feira, 24 de novembro de 2022

DEPOIS DO TERREMOTO...

Por Sofia Lerche Vieira (*)

O acirramento das diferenças políticas e ideológicas em nosso país não é fenômeno recente mas se aprofundou nos últimos meses. Para a sobrevivência das relações sociais, grande parte dos brasileiros optou por se calar. O segundo turno da eleição presidencial explicitou a fratura que divide a sociedade brasileira. Passado esse tempo de turbulência, o que fazer? Seria sensato lembrar o conselho atribuído ao Marquês de Pombal ao ser indagado sobre o caminho a seguir depois do grande terremoto de Lisboa, em 1755: "fechar os portos, enterrar os mortos e reconstruir a cidade".

Em matéria de educação, os últimos quatro anos nos deixaram um cenário de terra arrasada. O Ministério da Educação tornou-se espaço de uso político e ideológico, sendo palco de desmandos e corrupção, do qual o escândalo dos pastores e das barras de ouro é uma ilustração. A malversação de recursos públicos correspondeu a uma drástica redução orçamentária como bem evidenciou matéria recente do jornal Folha de São Paulo ("Lula precisará reerguer MEC e lidar com efeitos da pandemia na educação", 31 out. 2022). Para além do movimento, aparentemente deliberado, de desconstrução das políticas nacionais da educação, vale lembrar ainda o inconcebível aparelhamento e a consequente quebra de confiança institucional no INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), onde estão abrigados os dados e indicadores de toda a educação brasileira.

O sequestro de grande parte das informações geradas pelos censos da educação básica e superior, assim como daquelas oriundas dos exames nacionais disponíveis à consulta pública e a pesquisadores também é inadmissível. Estes são apenas alguns dos problemas com os quais o novo governo terá que se defrontar para reerguer a educação.

Reconstruir o que se perdeu e encontrar novas soluções para os desafios decorrentes da pandemia é um árduo caminho, particularmente em tempos de discórdia. Trata-se, porém, de tarefa inadiável. Requer paciência, tolerância e determinação. Este deverá ser um tema-chave para a agenda do governo Lula e da sociedade. 

(*) Professora do Programa de Pós-Graduação em Educação da Uece e consultora da FGV-RJ.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 7/11/22. Opinião, p.22.

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