Por Sofia Lerche Vieira (*)
O acirramento
das diferenças políticas e ideológicas em nosso país não é fenômeno
recente mas se aprofundou nos últimos meses. Para a sobrevivência das relações
sociais, grande parte dos brasileiros optou por se calar. O segundo turno da
eleição presidencial explicitou a fratura que divide a sociedade brasileira.
Passado esse tempo de turbulência, o que fazer? Seria sensato lembrar o
conselho atribuído ao Marquês de Pombal ao ser indagado sobre o caminho a
seguir depois do grande terremoto de Lisboa, em 1755:
"fechar os portos, enterrar os mortos e reconstruir a cidade".
Em matéria
de educação, os últimos quatro anos nos deixaram um cenário de terra
arrasada. O Ministério da Educação tornou-se espaço de uso político e
ideológico, sendo palco de desmandos e corrupção, do qual o escândalo dos
pastores e das barras de ouro é uma ilustração. A malversação de
recursos públicos correspondeu a uma drástica redução orçamentária como bem
evidenciou matéria recente do jornal Folha de São Paulo ("Lula precisará
reerguer MEC e lidar com efeitos da pandemia na educação", 31 out. 2022).
Para além do movimento, aparentemente deliberado, de desconstrução das
políticas nacionais da educação, vale lembrar ainda o inconcebível
aparelhamento e a consequente quebra de confiança institucional no INEP
(Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), onde
estão abrigados os dados e indicadores de toda a educação brasileira.
O sequestro
de grande parte das informações geradas pelos censos da
educação básica e superior, assim como daquelas oriundas dos exames
nacionais disponíveis à consulta pública e a pesquisadores também é
inadmissível. Estes são apenas alguns dos problemas com os quais o novo governo
terá que se defrontar para reerguer a educação.
Reconstruir
o que se perdeu e encontrar novas soluções para os desafios decorrentes
da pandemia é um árduo caminho, particularmente em tempos de
discórdia. Trata-se, porém, de tarefa inadiável. Requer paciência, tolerância e
determinação. Este deverá ser um tema-chave para a agenda do governo Lula e da
sociedade.
(*) Professora do Programa de Pós-Graduação em Educação da Uece e
consultora da FGV-RJ.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 7/11/22. Opinião, p.22.
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