terça-feira, 1 de novembro de 2022

MORTE MATERNA AUMENTA E DEMANDA RESPOSTA

Por Astrid Bant (*)

No sistema de saúde brasileiro, uma realidade preocupa autoridades e profissionais da atenção obstétrica e da saúde das mulheres: a razão de mortalidade materna - que registra as mortes relacionadas a complicações no parto, gravidez e puerpério - alcançou patamares alarmantes, retrocedendo a índices de uma década atrás. Esse quadro oferece sérios obstáculos para o alcance dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) no país.

Em 2021, a razão de mortalidade materna alcançou 107.53 mortes a cada 100 mil nascidos vivos. Isso significa que, a cada 100 mil bebês nascidos vivos, 107 mulheres morreram, em média. Um aumento de 94% em relação ao período anterior à pandemia: em 2019, a razão era de 55.31 a cada 100 mil nascidos vivos. O aumento do número total de mortes maternas foi de 77% entre 2019 e 2021. As estatísticas do Ministério da Saúde foram mapeadas pelo Observatório Obstétrico Brasileiro.

No início da pandemia, o Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) chamou atenção para as dificuldades que o sistema de saúde materna enfrentaria, em virtude das interrupções de serviços essenciais. Mas o impacto acabou se provando significativamente maior do que esperávamos.

O enfrentamento à mortalidade materna tem sido, historicamente, uma importante missão do Estado brasileiro. Em 2015, quando a ONU propôs uma audaciosa agenda de desenvolvimento global, os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), o Brasil estabeleceu a meta de reduzir a razão de morte materna, até 2030, a no máximo 30 a cada 100 mil nascidos vivos. A menos de oito anos do prazo final, as estatísticas ligam um aviso de preocupação.

Os números assustam, e devem assustar. Chegamos ao ponto em que não é possível ignorar esta realidade. É preciso agir agora e intensificar esforços para garantir que todas as mulheres, dos diversos perfis sociodemográficos, possam passar com segurança e dignidade pela gravidez e parto e que contem com todos os cuidados, informações e recursos relevantes. Isso passa por facilitar e garantir o acesso à atenção à saúde por mulheres afrodescendentes, em situação de pobreza, indígenas, população rural, entre outros grupos que enfrentam situações de vulnerabilidade social. Passa também pela plena imunização de gestantes, por garantir unidades de saúde equipadas, entre outras coisas. A vida das mulheres está em risco. Não há como esperar mais.

(*) Representante do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA).

Fonte: Publicado In: O Povo, de 8/10/22. Opinião, p.19.

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