Por Sofia Lerche Vieira (*)
Os livros
de história ensinam que a Confederação do Equador foi um movimento
separatista ocorrido no Nordeste nos idos de 1824. Naquela oportunidade,
lideradas por Pernambuco, províncias da região participaram da revolta contra o
autoritarismo de Dom Pedro I, unindo-se na defesa do regime republicano. O
Ceará foi protagonista importante dos embates então travados. O movimento foi
sufocado pelo poder central, sendo alguns de seus líderes presos e mortos.
Personagens
que hoje nomeiam ruas de Fortaleza foram atores decisivos da trama confederada.
Todos com trágico final. Tristão Gonçalves, presidente eleito do Ceará,
teve sua cabeça colocada a prêmio, sendo morto em batalha. Padre Mororó,
intelectual orgânico do movimento separatista, foi capturado e executado em
Praça Pública. Pereira Filgueiras foi preso e morreu a caminho do Rio de
Janeiro. Considerados traidores na época, foram reabilitados e reconhecidos
como mártires do movimento pela República.
Esses ecos
históricos ressoam no presente, quando nordestinos são amaldiçoados em redes
sociais por grupos de extrema direita por terem votado no ex-presidente
Lula (PT) no primeiro turno das eleições presidenciais. Agravando tal
situação, o atual presidente justifica tal vitória pelo analfabetismo dos
cidadãos nordestinos.
Se o sonho
dos confederados do passado tivesse se materializado e o
Nordeste fosse um país, Lula já estaria eleito. No Ceará esta preferência
foi expressa com clareza por uma maioria de 65, 91% de votos contra 25,38%
daqueles dados ao presidente no poder.
Pelo país e
no exterior, milhares de vozes se insurgem contra o inominável
preconceito mais uma vez manifesto. A hora é de unir forças e defender de
forma intransigente a igualdade de todos perante a lei "sem distinção de
qualquer natureza", assim como a livre "manifestação do
pensamento", como afirma a Constituição de 1988 (Art. 5°). A luta que se
avizinha no segundo turno é muito mais que uma histórica questão de
discriminação. Trata-se de optar entre a democracia e o autoritarismo, entre a
civilização e a barbárie. E de retomar o sonho republicano.
(*) Professora do Programa de Pós-Graduação em Educação da Uece e
consultora da FGV-RJ.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 10/10/22. Opinião, p.18.
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