segunda-feira, 19 de dezembro de 2022

O LEGADO DE UM PROFESSOR E AMIGO

Por César Barreto (*)

Este é um escrito que eu não gostaria de fazer, pois preferia uma conversa amigável e sempre cheia de humor com o amigo Assuéro Ferreira, que dia quatro recente encerrou seu convívio entre nós, deixando as marcas de um refinado analista da conjuntura social e econômica.

Enquanto conhecedor dos nossos problemas costumava aliar teoria e fatos cotidianos, uma prática que foi se refinando na travessia entre formação econômica e sociológica.

Conheci Assuero no ambiente de trabalho. Éramos ambos coordenadores, ele do Programa de Pós-Graduação em Economia (Caen) e eu da Pós de sociologia da Universidade Federal do Ceará (UFC).

Lutávamos por maior integração das ciências humanas, reforçando um conhecimento mais crítico e envolvido com os problemas da nossa sociedade. A batalha tinha como norte uma universidade mais engajada politicamente, com professores e professoras dedicados ao trabalho acadêmico.

Ele dizia "a universidade só pode ter pessoas dedicadas 100% ao trabalho, somos uma universidade pública, mantida pelo povo". Assuero desejava que a Economia Política ocupasse maior espaço no Caen, mesmo sendo um exímio matemático e refinado estatístico. Era conhecedor de Michal Kalecki, um marxista especializado em macroeconomia.

Quando cursou o doutorado em Sociologia, já como professor titular, tinha uma carreira reconhecida. Tive a honra de ser seu orientador, fortalecendo laços de amizade e interlocução nos debates acadêmicos.

Ele costumava dizer que queria beber da fonte da sociologia, pois gostaria de aprimorar seus conhecimentos. Assim, em um dos primeiros cursos de teoria identificou-se com Norbert Elias, tornando-se também crítico de Hannah Arendt.

Assuéro publicou artigos nas Revista de Ciências Sociais e muito contribuiu nas aulas de metodologia, explicando processos de amostragem. Nossos debates ultrapassaram os espaços universitários, ocupando mesas de bar. Assim criamos os "Cafés Filosóficos Tupiniquins".

Registro agora a enorme falta de uma pessoa especial que seguramente deixou marcas intelectuais e afetivas. 

(*) Sociólogo e professor titular aposentado da UFC.

Fonte: O Povo, de 18/12/22. Opinião. p.20.

Nenhum comentário:

Postar um comentário