Por César Barreto (*)
Este
é um escrito que eu não gostaria de fazer, pois preferia uma conversa amigável
e sempre cheia de humor com o amigo Assuéro Ferreira, que dia quatro recente
encerrou seu convívio entre nós, deixando as marcas de um refinado analista da
conjuntura social e econômica.
Enquanto
conhecedor dos nossos problemas costumava aliar teoria e fatos cotidianos, uma
prática que foi se refinando na travessia entre formação econômica e
sociológica.
Conheci
Assuero no ambiente de trabalho. Éramos ambos coordenadores, ele do Programa de
Pós-Graduação em Economia (Caen) e eu da Pós de sociologia da Universidade
Federal do Ceará (UFC).
Lutávamos
por maior integração das ciências humanas, reforçando um conhecimento mais
crítico e envolvido com os problemas da nossa sociedade. A batalha tinha como
norte uma universidade mais engajada politicamente, com professores e
professoras dedicados ao trabalho acadêmico.
Ele
dizia "a universidade só pode ter pessoas dedicadas 100% ao trabalho,
somos uma universidade pública, mantida pelo povo". Assuero desejava que a
Economia Política ocupasse maior espaço no Caen, mesmo sendo um exímio
matemático e refinado estatístico. Era conhecedor de Michal Kalecki, um marxista
especializado em macroeconomia.
Quando
cursou o doutorado em Sociologia, já como professor titular, tinha uma carreira
reconhecida. Tive a honra de ser seu orientador, fortalecendo laços de amizade
e interlocução nos debates acadêmicos.
Ele
costumava dizer que queria beber da fonte da sociologia, pois gostaria de
aprimorar seus conhecimentos. Assim, em um dos primeiros cursos de teoria
identificou-se com Norbert Elias, tornando-se também crítico de Hannah Arendt.
Assuéro
publicou artigos nas Revista de Ciências Sociais e muito contribuiu nas aulas
de metodologia, explicando processos de amostragem. Nossos debates
ultrapassaram os espaços universitários, ocupando mesas de bar. Assim criamos
os "Cafés Filosóficos Tupiniquins".
Registro
agora a enorme falta de uma pessoa especial que seguramente deixou marcas
intelectuais e afetivas.
(*) Sociólogo e
professor titular aposentado da UFC.
Fonte: O Povo, de 18/12/22. Opinião. p.20.
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