Por Pe. Eugênio Pacelli SJ (*)
Neste tempo de velocidade vivemos uma secreta angústia.
Segundo sociólogo polonês Zygmunt Bauman, vivemos em um tempo que escorre pelas
mãos, um tempo líquido em que nada é para persistir. Não há nada tão intenso,
nada sólido que consiga permanecer e se tornar verdadeiramente necessário. Tudo
é transitório.
Não há a observação pausada e saboreada daquilo que
experimentamos, é preciso fotografar, filmar, comentar, mostrar, sob o risco de
não ser considerado verídico. A sociedade está marcada pela ansiedade,
reina uma incapacidade de experimentar profundamente o que nos chega, o que
importa é poder descrever aos demais, mostrar ao mundo o que se está fazendo.
Na contramão, Santo Inácio de Loyola nos ensina a saborear as coisas
internamente.
Na era do Instagram e do Tik Tok também não há desagrados, se
não gosto de uma declaração, de um pensamento, de um posicionamento, deleto,
ignoro, desconecto, bloqueio. É a era do cancelamento e da falta de
tolerância. Perde-se a profundidade das relações e dos acontecimentos, perde-se
o diálogo que possibilita a harmonia e também o destoar, o discordar.
Nas relações virtuais não existem discussões que terminem em
abraços vivos, as discussões são distantes, ásperas. Analisamos o outro por
suas fotos, pelas frases de efeito, pelos lugares que frequenta, pelas marcas
que expõe, digerimos os recortes feitos pelas imagens publicadas como a vida
real, que raramente correspondem à verdade.
Ao mesmo tempo em que experimentamos um isolamento protetor,
vivenciamos uma absoluta exposição. Não há o privado, tudo é desvendado: o que
se come, o que se compra; o que nos atormenta e o que nos alegra. Vivemos um
tempo de angústia e ansiedade. Filosoficamente a angústia é o
sentimento do nada e a ansiedade da aceleração. O corpo se inquieta e a alma
sufoca. Há uma vertigem conduzindo as relações, tudo se torna vacilante, tudo
pode ser deletado, cancelado: o amor e as amizades.
Na espiritualidade Inaciana o discernimento ocupa um
lugar de destaque. Alimentemos a capacidade de discernir os prós e os contras
para uma decisão madura e feliz. Não podemos fugir das realidades tecnológicas
na modernidade, porém devemos usá-las com discernimento, senso crítico e
maturidade para que não nos tornemos escravos delas e caíamos num
individualismo doentio que nos separa dos outros e nos afasta da realidade.
Pense nisso.
(*) Sacerdote jesuíta e mestre em Teologia. Diretor do
Seminário Apostólico de Baturité.
Fonte: O Povo, de 19/11/2022. Opinião. p.14.
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