quarta-feira, 4 de janeiro de 2023

NO REINO DA TOLERÂNCIA IV

Por Vladimir Spinelli Chagas (*)

Meu primeiro artigo para essa série de colaborações no O POVO, em fevereiro de 2020, trouxe o tema O Reino da Tolerância por já sentir, à época, um recrudescimento da intolerância nas relações pessoais, por motivações que não considero minimamente justificáveis.

Foi assim em relação às ações no enfrentamento à Covid19, especialmente nas questões envolvendo economia e saúde, vacinação, adoção de medidas de isolamento ou distanciamento social, dentre outras. O quadro eleitoral não poderia fugir a este triste e lastimável padrão.

As discussões continuaram estéreis, pois preferimos nos fechar em nossas convicções, como se não fosse possível haver algum indício sequer de inteligência, naqueles que pensem de forma diferente da nossa. Quanta ilusão!

O alargamento das interferências do Judiciário, com decisões muitas vezes mais propulsoras do que redutoras desse clima, e os ataques ao Supremo passaram a ser mais um ponto a mostrar a divisão entre os brasileiros, sempre a partir da intolerância.

Chegamos agora a avanços contra as liberdades individuais em "defesa da democracia", como se Democracia sobrevivesse sem liberdade plena. Mas não vemos, também aqui, uma reflexão racional sobre a dose do remédio aplicado. Isto não parece necessário ao todo, mas apenas a quem a medida atinge. Se meu bandido, aplaudo! Se meu herói, reclamo!

Repito a percepção que tenho de que não há interesse em se defender causas dentro do mínimo de respeito às escolhas do outro. Passamos a nos sentir os únicos a deter a razão e, com isso, a ter o direito de agredir o adversário, sem admitir a esse a possibilidade do revide. Queremos que ele se cale!

Assim como em fevereiro de 2021 e em fevereiro de 2022, volto a pugnar pela necessidade de praticarmos a tolerância, mesmo que se a possa considerar utópica, em vez de continuarmos nos Garantido x Caprichoso ou Fla x Flu. Lamentavelmente, o que temos visto são ações cada vez mais intolerantes de todas as partes.

Por intolerância, nós, cidadãos e eleitores, continuaremos vítimas de nossas próprias ações ou omissões. E acumularemos um passivo que adiante nos será cobrado.

(*) Professor aposentado da Uece, membro da Academia Cearense de Administração (Acad) e conselheiro do CRA-CE.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 5/12/22. Opinião, p.20.

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