Por
Vladimir Spinelli Chagas (*)
Meu
primeiro artigo para essa série de colaborações no O POVO, em fevereiro de
2020, trouxe o tema O Reino da Tolerância por já sentir, à época, um
recrudescimento da intolerância nas relações pessoais, por motivações
que não considero minimamente justificáveis.
Foi assim
em relação às ações no enfrentamento à Covid19, especialmente nas
questões envolvendo economia e saúde, vacinação, adoção de medidas de
isolamento ou distanciamento social, dentre outras. O quadro
eleitoral não poderia fugir a este triste e lastimável padrão.
As
discussões continuaram estéreis, pois preferimos nos fechar em nossas
convicções, como se não fosse possível haver algum indício sequer
de inteligência, naqueles que pensem de forma diferente da nossa. Quanta
ilusão!
O
alargamento das interferências do Judiciário, com decisões muitas vezes mais
propulsoras do que redutoras desse clima, e os ataques ao
Supremo passaram a ser mais um ponto a mostrar a divisão entre os
brasileiros, sempre a partir da intolerância.
Chegamos
agora a avanços contra as liberdades individuais em "defesa da
democracia", como se Democracia sobrevivesse sem liberdade plena. Mas não
vemos, também aqui, uma reflexão racional sobre a dose do remédio aplicado.
Isto não parece necessário ao todo, mas apenas a quem a medida atinge. Se meu
bandido, aplaudo! Se meu herói, reclamo!
Repito a
percepção que tenho de que não há interesse em se defender causas dentro do
mínimo de respeito às escolhas do outro. Passamos a nos sentir os únicos a
deter a razão e, com isso, a ter o direito de agredir o adversário, sem
admitir a esse a possibilidade do revide. Queremos que ele se cale!
Assim como
em fevereiro de 2021 e em fevereiro de 2022, volto a pugnar pela necessidade de
praticarmos a tolerância, mesmo que se a possa considerar utópica, em vez de
continuarmos nos Garantido x Caprichoso ou Fla x Flu.
Lamentavelmente, o que temos visto são ações cada vez mais intolerantes de
todas as partes.
Por intolerância,
nós, cidadãos e eleitores, continuaremos vítimas de nossas próprias ações
ou omissões. E acumularemos um passivo que adiante nos será cobrado.
(*) Professor aposentado
da Uece, membro da Academia Cearense de Administração (Acad) e conselheiro do
CRA-CE.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 5/12/22. Opinião, p.20.
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