Por Henrique Soárez (*)
Está em
curso uma batalha sobre o papel do hidrogênio no caminho até zerarmos
a nossa pegada planetária de carbono. De um lado estão os que vêm a queima do
hidrogênio produzir nada mais que energia e água. De outro lado, os que tomam
notas sobre a quantidade e a origem da energia necessária para produzir o
hidrogênio dito verde.
Uns creem
que o hidrogênio será usado como combustível de navios, aviões e trens, para
aquecimento residencial e até mesmo para a produção de cimento e aço sustentável.
Outros alegam que a ineficiência energética da hidrólise e da posterior
liquefação das pequenas moléculas de H2 restringirá suas aplicações finais a
processos como a produção de fertilizantes. Entre os dois extremos
encontraremos capitalistas apostando seus recursos em desfechos
específicos. Governos e iniciativa privada precisam um do outro para chegarmos
ao futuro sem CO2.
Empresários
podem apostar (leia-se: multiplicar ou perder) seu capital. Andrew Forrest, por
exemplo, fez fortuna minerando os desertos australianos e agora aposta que o
hidrogênio possibilitará a produção de aço sem o uso do carvão. Forrest
alega que a produção de aço pelos meios atuais utilizaria 100% do orçamento de
carbono associado à meta de 1,5oC de aquecimento global. Para ele, a Austrália
será a "Arábia Saudita do Hidrogênio Verde."
Governos,
por sua vez, devem ser conservadores no uso dos recursos vindos do pagador
de impostos. Vale oferecer infraestrutura, como linhas de transmissão de
eletricidade, especialmente se essa tiver utilidade para outras indústrias. É
indispensável oferecer segurança jurídica, pois o capital só virá se os
eventuais ganhos forem capturáveis. Se os terrenos envolvidos forem abundantes
e baratos é razoável que sejam dados como incentivo. Isenções fiscais também
serão lícitas desde que compatíveis com aquelas dadas a outros setores
produtivos.
O
hidrogênio verde depende também de insumos como água doce e eletricidade
renovável. Assim, importa que nossos governantes se abstenham de intervir na
sua precificação. O bom funcionamento da economia em geral depende da
sinalização cristalina dos preços para que o capital chegue ao seu destino
correto.
(*) Engenheiro eletricista, diretor do Colégio 7 de Setembro e da
Uni7.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 29/12/22. Opinião, p.14.
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