domingo, 30 de abril de 2023

BISU (OU BIZU) I*

Por Dalgimar Beserra de Menezes

Até hoje não sei a origem da palavra bizu. Sei que tem um fonema z tão forte e óbvio que só pode ser escrito com z. Mas, claro poderia ser escrito com s. E que é uma palavra discreta, sutil, segredeiro. Vários dicionários consultados não a registram. Não está no Aurélio nem no Houaiss. E eu me pergunto: onde andaria? Os estudantes também se perguntam, às vésperas de cada prova: onde andaria?

Houve quem me dissesse que é termo onomatopaico, que quereria significar os sonidos do voo de um besouro. O som que traz uma notícia alvissareira. Não fiquei satisfeito. Andei em busca do étimo em outros dicionários, com baldados esforços. A única palavra que encontrei símile foi a que designa calouro em francês: bizut ou bizuth, que, a propósito dá origem também ao termo francês para trote.

Conhecida ou desconhecida a sua origem o bizu corre, o bizu escorre, o bizu flui. Mais filosoficamente, o bizu permeia, o bizu pervaga. Pervaga o cérebro dos estudantes. Permeia o curso médico.

Trocando em miúdos, todavia, bizu (bisu?) é a dica, é a deixa que o professor deixou propositada ou involuntariamente escapar sobre a questão que vai cair na prova. Mas não é só isso. O termo tem seus mistérios.

Quero contar duas histórias sobre bizus. (A palavra teria plural?).

A primeira vou designar como bizu absoluto. Não sei se alguém já a chamou como bizu absoluto. Mas os que se sentaram nos bancos escolares na década de sessenta lembram-se bem dela. Existia um prédio chamado de Andreas Vesalius demolido hoje , e uma grande sala de aula, com uma só entrada/saída. Parece que a estou vendo agora. A turma toda reunida espera a entrada do professor Geraldo de Souza Tomé, Turma 1956, que vai trazer notícias sobre a primeira prova de Anatomia Patológica a ser realizada. E mal tinham começado as aulas da disciplina. Adentra ele ao recinto, a turma toda encantoada, e de sua voz inconfundível larga lá:

Turma: Gostaria de avisar a vocês que nossa primeira prova será feita com a matéria que está contida nas primeiras trezentas páginas do livro de Patologia adotado pela disciplina, o Boyd. Vocês, portanto, leiam, estudem e aprendam as primeiras trezentas páginas desse livro.

Não testemunho de jeito nenhum que essas sejam in verbis (verbatim) suas famosas palavras, mas o sentido era exatamente esse. Boyd era texto célebre oriundo do Canadá, e mutatis mutandis, foi substituído na disciplina pelo Robbins. Mas essa é outra história. Voltando ao tema: não estudasse não as trezentas páginas e você se candidatava à reprovação.

Fonte: MENEZES, Dalgimar Beserra de. Bisu (ou Bizu). In: MENEZES, Dalgimar Beserra de. Apontamentos diário e eventuais. Fortaleza: Expressão Gráfica, 2006. 231p. p.129-131.

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*Bizu também se chamava um jornalzinho de circulação interna na Faculdade de Medicina.

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