Por Dalgimar Beserra de Menezes
Até hoje não sei a origem da palavra bizu. Sei que tem um
fonema z tão forte e óbvio que só pode ser escrito com z. Mas, claro poderia
ser escrito com s. E que é uma palavra discreta, sutil, segredeiro. Vários
dicionários consultados não a registram. Não está no Aurélio nem no Houaiss. E
eu me pergunto: onde andaria? Os estudantes também se perguntam, às vésperas de
cada prova: onde andaria?
Houve quem me dissesse que é termo onomatopaico, que
quereria significar os sonidos do voo de um besouro. O som que traz uma notícia
alvissareira. Não fiquei satisfeito. Andei em busca do étimo em outros
dicionários, com baldados esforços. A única palavra que encontrei símile foi a
que designa calouro em francês: bizut
ou bizuth, que, a propósito dá origem
também ao termo francês para trote.
Conhecida ou desconhecida a sua origem o bizu corre, o
bizu escorre, o bizu flui. Mais filosoficamente, o bizu permeia, o bizu
pervaga. Pervaga o cérebro dos estudantes. Permeia o curso médico.
Trocando em miúdos, todavia, bizu (bisu?) é a dica, é a
deixa que o professor deixou propositada ou involuntariamente escapar sobre a
questão que vai cair na prova. Mas não é só isso. O termo tem seus mistérios.
Quero contar duas histórias sobre bizus. (A palavra teria
plural?).
A primeira vou designar como bizu absoluto. Não sei se alguém já a chamou como bizu absoluto.
Mas os que se sentaram nos bancos escolares na década de sessenta lembram-se
bem dela. Existia um prédio chamado de Andreas Vesalius – demolido
hoje –, e uma grande sala de aula, com uma só entrada/saída.
Parece que a estou vendo agora. A turma toda reunida espera a entrada do
professor Geraldo de Souza Tomé,
Turma 1956, que vai trazer notícias sobre a primeira prova de Anatomia
Patológica a ser realizada. E mal tinham começado as aulas da disciplina.
Adentra ele ao recinto, a turma toda encantoada, e de sua voz inconfundível
larga lá:
– Turma: Gostaria de avisar a vocês que nossa primeira prova
será feita com a matéria que está contida nas primeiras trezentas páginas do
livro de Patologia adotado pela disciplina, o Boyd. Vocês, portanto, leiam, estudem e aprendam as primeiras
trezentas páginas desse livro.
Não testemunho de jeito nenhum que essas sejam in verbis (verbatim) suas famosas palavras, mas o sentido era exatamente esse.
Boyd era texto célebre oriundo do Canadá, e mutatis
mutandis, foi substituído na disciplina pelo Robbins. Mas essa é outra história. Voltando ao tema: não estudasse
não as trezentas páginas e você se candidatava à reprovação.
Fonte: MENEZES, Dalgimar Beserra
de. Bisu (ou Bizu). In: MENEZES, Dalgimar Beserra de. Apontamentos diário e eventuais.
Fortaleza: Expressão Gráfica, 2006. 231p. p.129-131.
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*Bizu também se chamava um jornalzinho de circulação
interna na Faculdade de Medicina.
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