Meraldo Zisman (*)
Médico-Psicoterapeuta
… Nossa hipótese é que o investimento na educação primária e secundária
em todo o mundo é a estratégia mais eficaz para nos prepararmos para enfrentar
os perigos ainda incertos, associados ao clima futuro.
Tá difícil. O aquecimento global é outra campanha de terror
que não tem fundamentos e que se espraiou de maneira pandêmica. O planeta se
aquece e se esfria a seu bel-prazer, com nossa participação ou não. E, apesar
das muitas explicações, calmarias não acontecem. Leia o que dizem
determinadas pesquisas na moda, perigosíssimas nesta era cibernética em que,
diante da fome crônica que assola o mundo desde que existimos, são usadas
certas palavras, designações, acusações não explicadas corretamente e
aumentando o medo e a ansiedades de todos.
Existem diferentes categorias de poluição, como a
atmosférica, a hídrica, a dos solos, a sonora e a visual. Qualquer delas pode
ser bastante nociva para os seres vivos, incluindo o ser humano, que tem
potencial para desenvolver problemas de saúde, criados também pelo idiotismo
desequilibrado que acusa a mente humana de ser responsável pela destruição da
ecologia. Sem dúvida, sob certos aspectos, estamos agravando a poluição causada
pelo avanço técnico-cientifico. Juntar o aquecimento global à educação me
parece um tanto esdrúxulo.
A variação da temperatura do planeta, que torna o clima
imprevisível, trouxe uma infinidade de problemas, desde enchentes e
deslizamentos de terra, aumento de precipitações pluviométricas, novas doenças
pandêmicas das mais variadas espécimes, como malária e dengue. A recente
pandemia da covid-19 piorou as coisas, fechando salas de aula para 1,6 bilhão
de crianças em todo o mundo.
Antes da pandemia, 53% das crianças de dez anos em países
de baixa e média renda não sabiam ler um texto simples. Esse número pode ter
subido para 70%, estima o Banco Mundial. Considerando que as populações das
regiões mais carentes tendem a ser conservadoras, muitas vezes elas se apegam
obstinadamente aos métodos agrícolas que alimentaram seus antepassados. Tentar
algo novo, para eles, pode ser fatal se não houver uma alternativa econômica ou
uma rede de segurança.
Um agricultor de subsistência que arrisca uma nova técnica
de plantio, e que esta falha, pode morrer de fome, ele e a sua família. A fome
afeta as crianças e jovens em seu desenvolvimento, sendo que as variações
biotípicas como o nanismo também afetam o cérebro. Essas crianças certamente
terão um desempenho pior na escola.
Um estudo de Erich Striessnig, Wolfgang Lutz e Anthony
Patt, do Instituto Internacional de Análise de Sistemas Aplicado de Luxemburgo
trata da relação entre os efeitos na área educacional e a vulnerabilidade
criada pelo risco climático. (Conferir em Ecologia e Sociedade http://dx.doi.org/10.5751/ES-05252-180116).
Ali se sugere maneiras pelas quais a educação pode reduzir tais efeitos e
garantir a sobrevivência. No contexto de efeitos específicos ainda incertos das
mudanças climáticas em alguns locais, esse artigo examina se a educação aumenta
significativamente a capacidade de enfrentamento em relação às mudanças
climáticas e se melhora a resiliência das pessoas aos riscos climáticos, em
geral.
Nossa hipótese é que o investimento na educação primária e
secundária em todo o mundo é a estratégia mais eficaz para nos prepararmos para
enfrentar os perigos ainda incertos, associados ao clima futuro.
A evidência empírica apresentada por uma série temporal de
fatores associados a desastres naturais acontecidos a partir de 1980 em 125
países confirma a importância primordial da instrução na redução dos impactos
causados pelas variações climáticas. O estudo apresenta também novas projeções
de populações por idade, sexo e nível de escolaridade até 2050. Os
pesquisadores descobriram ainda que, se a mãe foi educada, seu filho(a) tem
muito menos probabilidade de ser atrofiado. De fato, crianças nascidas em
famílias pobres, mas filhos de mães instruídas, enfrentaram aproximadamente o
mesmo risco de atraso no crescimento devido a enchentes que as crianças
nascidas em famílias ricas, mas filhos de mães sem instrução.
A realização educacional mais básica — a alfabetização —
mostrou como ela pode ajudar as pessoas a se adaptarem às mudanças climáticas,
criando a base para aprender novas habilidades. A educação, sobretudo, dá às
pessoas a confiança para se libertar das tradições, a curiosidade para buscar
nova informação e a habilidade cognitiva para processá-la e agir sobre ela.
Existem várias razões prováveis para isso. Mães com mais
escolaridade normalmente entendem mais sobre nutrição; são mais escrupulosas em
relação à higiene e mais inclinadas a buscar a medicina convencional e a
avaliar riscos antes ignorados, respondendo de maneira mais avisada às
imprevisíveis mudanças climáticas sem diminuir a importância da educação, que
passa de uma geração para outra.
A pior fome é a fome ancestral a qual defino como a que
passa de uma geração para as seguintes. Pouco tem a ver com as mudanças
climáticas. Devemos ter cuidado e buscar confirmar as bases das notícias falsamente
cientificas. O cientismo ainda é uma arma perigosa e assustadora.
(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco. Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE), da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES) e da Academia Recifense de Letras. Consultante Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha).
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